“NÃO SEI SE O TUMULTO DA
COMERCIALIZAÇÃO ESTARIA CONTURBANDO ALGUMA COISA: PARECE QUE HÁ MUITOS TÍTULOS
DE GIR E ESTÁ SOBRANDO ANIMAIS POR AÍ”.
Royalties a doutor Evaristo Soares de Paula. Anais do Simpósio Especial
sobre a Raça Gir, 1989.
O posicionamento exclusivo e
diferenciado ao GIR fez nascer uma marca poderosa e de absoluta confiança: GIR
LEITEIRO. Uma ‘trustmark’. Imprimiu um conceito ‘brand’ indicando uma funcionalidade
à raça significando sinal de qualidade e fator de diferenciação. Isto acabou
por gerar uma relação de cumplicidade com seus consumidores ao oferecer
satisfação e compensação no refletir do que ‘gosto’ e do que ‘preciso’. Ao
incorporá-la culturalmente, o consumidor/criador projetou em sua personalidade
o que é ser criador de GIR LEITEIRO: prazer, status, poder, etc.. A expressão
passou a funcionar holisticamente autoafirmando sua identidade: ‘sou criador de
GIR LEITEIRO’. O integrou em sociedade definindo, consciente e inconscientemente,
suas atitudes: o que ‘quero’ e o que faço’. O ‘feedback’ de relações /experiências
positivas com a expressão e melhores preços no mercado geraram uma cumplicidade
tornando o consumidor/criador num advogado da causa. Crenças e valores ficaram
confirmados e comprovados ao agregarem valores ao próprio consumidor
estabelecendo um sentimento de gratificação e, consequentemente, de autoestima.
Enche o peito para dizer: ‘sou criador de GIR LEITEIRO’. A cultura criada em
torno da expressão GIR LEITEIRO projetou uma única aptidão selecionável e
aceitável à raça, o leite. O GIR LEITEIRO passou a ser o legítimo representante
da raça zebuína no Brasil. A palavra PADRÃO até então usada para diferenciar o
importado (com chifres) da variedade mocha (sem chifres) criada no Brasil,
passou a designar indivíduos que não recebiam o rótulo de GIR LEITEIRO, porém, enquadrados
no ‘padrão racial’ exigido pelo SRG/ABCZ. Foi inclusive uma necessidade diante
de tamanhas concessões do serviço cartorial ao GIR LEITEIRO no tocante ao
padrão racial. Era como se houvessem duas raças Gir: ‘padrão’ e ‘leiteiro’. Há uma
suspeição por parte dos ‘puristas’ de que o GIR LEITEIRO originou-se fora da
consonância entre puros de origens, e sim, através de cruzamentos absorventes
utilizando-se do LA (Livro aberto), onde após a segunda geração com paternidade
PO (puro de origem) recebe a categoria PO. Fala-se, inclusive, em ingerência de
outras raças na sua composição. Mas isso é assunto para outro texto. Marca
poderosa e de confiança do mercado; cúmplice de seus consumidores; incorporada
culturalmente à personalidade de seu criador/consumidor, autoafirmando sua
identidade; integrando-o em sociedade através de crenças e valores externados
num sentimento de gratificação e autoestima, não pode mais parar. Nunca! Gir é
leite, leite, leite, leite, infinitamente, leite. O escritor João Ubaldo
Ribeiro, num programa de entrevista dizia ‘que o Universo não é contra nem a
favor, ele existe!’. O mesmo dia em relação ao Mercado. Não é contra, nem a favor.
Ele existe. É indiferente. Porém, cobra caro pelo erro. Esse erro existiu? Sim!
Ao invés de uma pressão seletiva para a produção de leite, objetivou-se a produção
de lactações para dar sustentação ao ‘marketing’ da marca. Todo criador de GIR
LEITEIRO tornou-se um selecionador tendo como objetivo de seu trabalho a
comercialização de genética, seja através de sêmen, embriões ou animais vivos.
E, para isso, o ‘status quo’ haveria de ser mantido. Os que saíram à frente
foram seguidos de perto pelos que vinham atrás. A produtividade (quantidade de
produção) de uma vaca Gir num curral foi substituída pela potencialidade de
lactação nos Controles e Torneios Leiteiros. Resultado: a ‘bolha’ estourou.
“O PASSADO CONSOLIDOU POSIÇÕES
DE PUREZA RACIAL, O FUTURO NOS RESERVA A EFICIÊNCIA RACIAL” [...] “É IMPOSSÍVEL
UM PAÍS TROPICAL COMO O NOSSO PRETENDER TER UM MILHÃO DE SELECIONADORES DE
SEMENTES ZEBUÍNAS PURAS”. Royalties ao doutor João Gilberto Rodrigues da Cunha.
Anais do Simpósio Especial da Raça Gir, 1989.
Luiz Humberto Carrião.
Outubro/2012