Tenho preferências ao zebuíno de chifres. É o diferencial. E,
por conseguinte, não o vejo como um detalhe apenas. Faz parte do todo. Aqueles
que assim pensam, exige desse item uma estética a acompanhar sua preferência
dentro do padrão racial. Um adendo para dizer que essa diversidade propiciada
pelo GIR é que o torna tão interessante, apaixonante e polêmico. Vou mais longe!
É uma raça que vai além da simples orientação funcional trazendo, em concomitância,
a alma artística daquele que o cria. Que diferença faz se a perfeição é buscada
(anatomicamente) na cabeça ou no úbere? Ou não existe preocupação daqueles que o exploram na funcionalidade leiteira com beleza, anatomia e funcionalidade do
úbere? O importante é que ‘nenhum trabalho vale pelo resultado que produz, mas
pela disposição de espontânea alegria e amor com que é feito’ [royalties a
Huberto Rohden]. O resultado do trabalho, sob a ótica financeira, é uma conseqüência
de si mesmo.
Por outro lado, vejo a produção do mestiço ½ sangue (gir x holandês)
oriundo de uma matriz gir mocha mais prazerosa e produtiva. Por isso devo ter
meu trabalho condenado? Mas condenado por quem? Com qual autoridade? Na
produção dessa matriz gir mocha posso utilizar-me de touros PROVADOS cuja anatomia
de cabeça não me agrada. A raça me dá essa opção. Não posso admitir que a carga
genética de um animal seja levada a efeito pelos chifres. A questão de não utilizar
determinados touros cuja cabeça não me agrada é uma questão de estética. Pura e
simplesmente!
Outro detalhe que me tem chamado a atenção é a produção de
carne em referência a Cota Hilton, que deve seu nome à cadeia de Hotéis
homônima. É constituída de cortes especiais do quarto traseiro de ‘novilhos precoce’ (expressão usada para definir
o animal abatido mais jovem com três a quatro dentes definitivos, 30 a 36
meses) alcançando internacionalmente de 3 a 4 vezes o preço da carne comum.
Esclarecimento: o Brasil não se encontra entre os credenciados à produção:
Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Estados Unidos, Canadá e Uruguai. Mas a
qualidade desse corte serve de referência a qualquer outro país. O cruzamento
da raça Nelore x Red Angus tem alcançado um abate em torno de 18 a 20 meses,
com 18 @, através do uso de creeping
feeding durante o período do aleitamento materno e pasto suplementado
pós-desmama. O que dizer com relação ao cruzamento Gir x Red Angus levando-se
em consideração a habilidade maternal da vaca GIR e a produção de carnes nobres
(posterior)? Boiadas estão sendo abatidas hoje nos frigoríficos em
torno de 16 @ arrobas para machos e 14 para fêmeas, peso este que
será alcançado (estimativa) por este cruzamento aos 18 meses. É só fazer a conta tomando
como referência 100 matrizes GIR distribuídas em duas estações de monta em grupo de 50 cada e projetar o resultado final.
O que existe são mitos de interesses de poucos em detrimento
de um todo. Desmitificar, essa é a palavra de ordem. Criadores de mito não os perdem
facilmente, e nem podem. ‘Um produto pode vender devido ao apelo lógico que exerce
sobre a nossa mente consciente, mas uma marca – ao contrário de um produto
individual – forma-se emocionalmente com o passar do tempo e entra no nosso inconsciente
numa maré de emoções e não por meios lógicos... ’ [royalties a William Backer].
Não podemos esquecer que ‘gir leiteiro’ é uma marca. Uma realidade produzida.
Sobre marca (realidade produzida) Sal Randazzo afirma: ‘Dentro desse espaço
perceptual da marca podemos criar sedutores mundos e personagens míticos que,
graças à publicidade, ficam associados ao produto’. No que foi dada a
funcionalidade específica leiteira a GIR, criando a expressão ‘gir leiteiro’,
nada mais fizeram do que projetar uma marca no mercado, cuja sustentabilidade
tem sido levada a efeito através de ‘altas lactações’ e um biótipo a diferenciá-lo
do até então existe, que de certa forma está sendo desmontado pela Ciência e
lactações aferidas em matrizes padrão utilizando-se das mesmas ferramentas.
Apesar da extraordinária aceitação pelo mercado, a marca ‘gir leiteiro’, ao que
parece, por falta de outros mitos de sustentação vai se exaurindo. Aos poucos a
GIR vai deixando de ser uma marca para voltar à condição de raça.
Luiz Humberto Carrião
Nenhum comentário:
Postar um comentário