sábado, 12 de maio de 2012

GIR, marca ou raça?


Tenho preferências ao zebuíno de chifres. É o diferencial. E, por conseguinte, não o vejo como um detalhe apenas. Faz parte do todo. Aqueles que assim pensam, exige desse item uma estética a acompanhar sua preferência dentro do padrão racial. Um adendo para dizer que essa diversidade propiciada pelo GIR é que o torna tão interessante, apaixonante e polêmico. Vou mais longe! É uma raça que vai além da simples orientação funcional trazendo, em concomitância, a alma artística daquele que o cria. Que diferença faz se a perfeição é buscada (anatomicamente) na cabeça ou no úbere? Ou não existe preocupação daqueles que o exploram na funcionalidade leiteira com beleza, anatomia e funcionalidade do úbere? O importante é que ‘nenhum trabalho vale pelo resultado que produz, mas pela disposição de espontânea alegria e amor com que é feito’ [royalties a Huberto Rohden]. O resultado do trabalho, sob a ótica financeira, é uma conseqüência de si mesmo.

Por outro lado, vejo a produção do mestiço ½ sangue (gir x holandês) oriundo de uma matriz gir mocha mais prazerosa e produtiva. Por isso devo ter meu trabalho condenado? Mas condenado por quem? Com qual autoridade? Na produção dessa matriz gir mocha posso utilizar-me de touros PROVADOS cuja anatomia de cabeça não me agrada. A raça me dá essa opção. Não posso admitir que a carga genética de um animal seja levada a efeito pelos chifres. A questão de não utilizar determinados touros cuja cabeça não me agrada é uma questão de estética. Pura e simplesmente!

Outro detalhe que me tem chamado a atenção é a produção de carne em referência a Cota Hilton, que deve seu nome à cadeia de Hotéis homônima. É constituída de cortes especiais do quarto traseiro de ‘novilhos precoce’ (expressão usada para definir o animal abatido mais jovem com três a quatro dentes definitivos, 30 a 36 meses) alcançando internacionalmente de 3 a 4 vezes o preço da carne comum. Esclarecimento: o Brasil não se encontra entre os credenciados à produção: Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Estados Unidos, Canadá e Uruguai. Mas a qualidade desse corte serve de referência a qualquer outro país. O cruzamento da raça Nelore x Red Angus tem alcançado um abate em torno de 18 a 20 meses, com 18 @, através do uso de creeping feeding durante o período do aleitamento materno e pasto suplementado pós-desmama. O que dizer com relação ao cruzamento Gir x Red Angus levando-se em consideração a habilidade maternal da vaca GIR e a produção de carnes nobres (posterior)? Boiadas estão sendo abatidas hoje nos frigoríficos em torno de 16 @ arrobas para machos e 14 para fêmeas, peso este que será alcançado (estimativa) por este cruzamento aos 18 meses. É só fazer a conta tomando como referência 100 matrizes GIR distribuídas em duas estações de monta em grupo de 50 cada e projetar o resultado final.

O que existe são mitos de interesses de poucos em detrimento de um todo. Desmitificar, essa é a palavra de ordem. Criadores de mito não os perdem facilmente, e nem podem. ‘Um produto pode vender devido ao apelo lógico que exerce sobre a nossa mente consciente, mas uma marca – ao contrário de um produto individual – forma-se emocionalmente com o passar do tempo e entra no nosso inconsciente numa maré de emoções e não por meios lógicos... ’ [royalties a William Backer]. Não podemos esquecer que ‘gir leiteiro’ é uma marca. Uma realidade produzida. Sobre marca (realidade produzida) Sal Randazzo afirma: ‘Dentro desse espaço perceptual da marca podemos criar sedutores mundos e personagens míticos que, graças à publicidade, ficam associados ao produto’. No que foi dada a funcionalidade específica leiteira a GIR, criando a expressão ‘gir leiteiro’, nada mais fizeram do que projetar uma marca no mercado, cuja sustentabilidade tem sido levada a efeito através de ‘altas lactações’ e um biótipo a diferenciá-lo do até então existe, que de certa forma está sendo desmontado pela Ciência e lactações aferidas em matrizes padrão utilizando-se das mesmas ferramentas. Apesar da extraordinária aceitação pelo mercado, a marca ‘gir leiteiro’, ao que parece, por falta de outros mitos de sustentação vai se exaurindo. Aos poucos a GIR vai deixando de ser uma marca para voltar à condição de raça.

Luiz Humberto Carrião          

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