sábado, 30 de junho de 2012

A raça Gir e o Leite

Sou da opinião que a raça GIR em termos de potencialidade (mecânica) induzida já mostrou sua capacidade. Agora é tempo de mostrá-la em termos de média de ordenha. Sair do individual para o coletivo. Isto sim, dará a raça a condição de expansão nos currais leiteiros, notadamente, naqueles que se encontram em propriedades abaixo de 50 alqueires goianos (48.000 m2) que respondem por 70% do leite produzido no Brasil. Todavia, que isso seja levado a efeito através de um gado GIR PURO DE ORIGEM. A adjetivação 'padrão', 'dupla aptidão', leiteiro' pouco importa! Que seja um gado PURO DE ORIGEM e não, um gado muita das vezes holandesado que alcançou a categoria PO , porque neste caso, já existe uma realidade que é o mestiço (gir holandês). Aí sim! Poderemos partir para um debate, acima de tudo, real e consciente, e não revestido por uma maquiagem. Também, que essa capacidade de produção de leite seja trazida a efeito com a relação custo/benefício desse leite dentro da realidade de cada propriedade. Realidade essa que irá determinar sobre o custo desse leite. Não podemos dissociar esse custo dessa realidade e do manejo utilizado. Noutro dia, o Bolsanello emitia aqui a opinião da necessidade do VERDE na dieta do animal lactado, onde para ele, a silagem acaba entrando como concentrado. É um dado interessante que precisa ser estudado e resultados apresentados. Esse verde poderia advir de pastagens convencionais, ou, na falta dessa, poderia vir através de capim triturado (específicos) em mistura com a silagem? Esse uso do verde representa o que em % na produtividade láctea? Tudo isso se faz necessário para que possamos alcançar o patamar que desejamos para a raça. Mas antes de tudo, que seja levado a efeito a raça GIR com pureza de origem. Outro detalhe é com relação a qualidade do leite. A literatura nos revela que o leite é composto de sólidos e água. Os sólidos representam em torno de 13% e o restante 87% é água, aliás, uma substância em abundância no Brasil. Há que se empreender uma ação no sentido de que seja reconhecido de maneira real esse sólido por parte das industrias lácteas. O leite precisa ser deixado de ser medido pela quantidade de água, e sim, pelo percentual de sólidos. E não falo isso em termos de Concursos Leiteiros, não! Isso precisa ser valorizado é pelo laticínio. Um leite com maior percentual de sólidos não pode ser pago ao preço daquele com maior quantidade de água. Isso só é interessante para o laticínio no beneficiamento do mesmo na produção de alimentos lácteos sólidos. Neste momento o que assistimos em Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso em relação ao gado de corte? Entidades representativas da raça Nelore juntamente com os criadores em voz única contra o monopólio de um frigorífico que se mantém às custas de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com juros subsidiados promovendo sua expansão pela região produtora de carne no sentido de impor sobre o preço da arroba. Na pecuária leiteira a gente não vê isso. E ela se faz necessária, afinal, no Brasil as ações políticas só andam através de pressão. Temos que ter sempre em mente esse axioma.

Luiz Humberto Carrião
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Ilustração: matriz Gioconda LHC (Luiz Humberto Carrião)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Gir: do universal ao individual


Duas assertivas me chamaram a atenção nas reuniões de diretoria da ABCZ. Ambas defendidas por diretores que ocupavam o cargo de vice-presidente na entidade. Vicente Araújo de Souza Júnior, Vicentinho, ao afirmar que as decisões naquela mesa não poderiam tomar como referencial dados estatísticos levados a efeitos através de mensurações quando da entrada nos animais para a Expozebu, justificando que a realidade do campo era bem diferente. E é! Outra, defendida por Willian Koury, de que a pecuária de produção é que dá sustentação à pecuária de elite, entendendo como 'pecuária de elite', aquela cujo objetivo primordial trata-se do Melhoramento Genético como produto de mercado. E é! São assertivas corretíssimas levadas a efeito no universal em se tratando de discussões levadas a efeito pela entidade maior do Zebu, e que, de maneira alguma impedem que no individual, cada criador venha praticar esse melhoramento genético em seu rebanho dentro da objetividade de exploração a que se propõe, independente da raça escolhida. Aliás, aqui também assume um papel decisivo no sucesso do empreendimento. O melhor animal de corte não é o mais pesado, e sim, aquele que consegue maior velocidade de ganho de peso do seu nascimento ao abate com maior rendimento de carcaça e qualidade da carne, e, com relação a produção leiteira, já foi dito aqui, 'a melhor vaca não é a que produz mais leite, e sim, a que mais lucro propicia ao bolso do criador'. São visões que transcendem o romantismo dentro de uma visão empresarial moderna. Não é porque a raça Nelore, por exemplo, seja classificada como de função frigorífica que suas fêmeas não podem ser utilizadas como receptoras a embriões de aptidão leiteira. Não possui o reservatório (cisterna) no raças como a Gir, Guzerá ou Sindi, mas são ótimas em habilidade maternal, caso contrário não desmamariam bezerros pesados como o fazem; o mesmo diria com relação a raças convencionadas, 'em absoluto', como produtoras de leite, como a Gir, servirem a cruzamentos industriais para a produção de carne, se considerarmos seu posterior avantajado, a ossatura leve com um rendimento de carcaça extraordinário, além, é claro, da habilidade maternal associada a um rendimento extra que é a produção de leite. Então, não vejo o cruzamento industrial na raça Gir como falta de paciência, talento ou competência para fazer Melhoramento Genético em raça pura, e sim, uma opção num empreendimento. Infelizmente, no Brasil, todo criador de Gir, em específico, entende que o negócio é produzir genética. Sim, genética, porque o leite vem do mestiço com exceções de raríssimos currais. Ora, se todos trilharem por esse caminho, a produção de genética, o que pensar sobre a demanda? Trabalhar eternamente para a produção de animais melhoradores? E os animais melhorados, fazer o quê com eles? Traduzir a raça, no caso da Gir, em simples produção de lactações em Controles e Concursos leiteiros não é inteligente. Porque na visão do produtor de leite o mestiço ainda é a opção mais lucrativa. O romantismo alegra o coração e massageia o ego, mas todo negócio necessita de sustentabilidade a si mesmo e àquele que nele investe. Trata-se da pedra angular de qualquer empreendimento.

Luiz Humberto Carrião
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Ilustração: matriz GIR crioula do rebanho LHC (Luiz Humberto Carrião)      

domingo, 24 de junho de 2012

Gir é leite, nada mais! Será?


Acompanhei aqui (facebook) comentários sobre a queda dos preços de animais da raça GIR na bolsa, notadamente, aquela referenciada pelos leilões. Não podemos esquecer que o mercado é regido por sua lei específica – oferta e procura – cuja relação determina o valor do produto. A equação é simples: se a oferta é menor do que a procura, a tendência dos preços é de alta, e, em contrário, oferta maior que a procura, tendência de baixa. Uma pergunta poderia responder o que está ocorrendo nesse mercado: existe um touro chamado C.A. Sansão que há anos ocupa a liderança no ranking de animais da raça GIR provados no Teste de Progênie executado pela EMBRAPA – gado de leite – em parceria com a ABCGIL e Sumário da ABCZ/UNESP levando-o a ser considerado um fenômeno na raça. Pois bem, qual o criador brasileiro que não possui filhas desse touro? Somente aqueles que não as desejaram. O mesmo pode-se afirmar em relação a outros animais. A inseminação artificial possibilitou isso. Mas essa, não pode ser considerada, em absoluto, a única justificativa para o desaquecimento do mercado. Outra questão levada a efeito foi a opção de funcionalidade única dada a raça, o leite, ignorando outras possibilidades como os cruzamentos industriais. Isso impediu a criação de um rebanho brasileiro de produção para atender a demanda dos criatórios que optaram por investir em genética. Gir é leite, nada mais! Elegeram um mito para o marketing: altas lactações individuais, como se elas traduzissem realidades dos currais. Um erro imperdoável! Atualmente, criadores da raça Nelore, na condição de integrados, estão trabalhando cruzamento industrial com a raça europeia Aberdeen Angus ou Red Angus com um ganho em torno de 30% a mais que os bezerros convencionais na desmama. Um bezerro nelore na desmama está sendo comercializado hoje, 24, a 650 reais. Façam o cálculo do preço alcançado pelo produto oriundo do cruzamento industrial? Fora da condição de integrado, obtém um abate aos 18 meses com 16 arrobas para machos e 14 para fêmeas, terminados em confinamento. As fêmeas resultante desse cruzamento (½ sangue nelore x angus) se retida no rebanho para a produção do 'tricross bovino' com a raça Wagyu (japonesa), ao produto desmamado impõe-se um ganho de 50% aos bezerros nelore x nelore. O que dizer da raça GIR possuidora do posterior mais avantajado de todos os zebuínos; de mais fina e leve ossatura propiciando maior rendimento de carcaça? Agora vamos fazer o cálculo em cima de 80 vacas GIR em cruzamento industrial agregando a este 4 litros de leite/dia. 80 x 4 = 320 x 0.80 R$ = 256.00R$ x 30 dias = 7.680 R$. Qual o custo com uma vaca GIR para a produção diária de 4 litros de leite? Façam agora a conta do rendimento obtido com a venda dos bezerros desmamados acrescida do rendimento obtido pela venda do leite? Coloquem de um lado as despesas e de outro a receita para uma relação de análise custo/benefício. Quantos alqueires são necessários para a criação de 80 vacas GIR paridas? Por outro lado, muitos foram os rebanhos 'gir leiteiro' que disponibilizaram 95% para a produção de mestiço ½ sangue com a raça holandesa ficando somente 5% para a reposição GIR. Todos sabem que a renovação num rebanho mestiço leiteiro ocorre após a 6ª lactação/indivíduo, propiciando uma demanda extraordinária ao produtor desse mestiço ½ sangue. Não falo aqui na produção de receptoras zebuínas pela pequena população de fêmeas GIR sendo mais fácil a utilização do touro zebuíno de aptidão leiteira em vacada nelore. Muitas campanhas se exaurem e com elas os produtos quando o consumidor toma consciência de que ela não traduz o resultado anunciado. Isso, foi o que aconteceu com a raça GIR, quando lhe impuseram uma diferenciação exclusiva ao afirmarem ser uma raça zebuína de funcionalidade única, produção de leite.

Luiz Humberto Carrião