Acompanhei
aqui (facebook) comentários sobre a queda dos preços de animais da
raça GIR na bolsa, notadamente, aquela referenciada pelos leilões.
Não podemos esquecer que o mercado é regido por sua lei específica
– oferta e procura – cuja relação determina o valor do produto.
A equação é simples: se a oferta é menor do que a procura, a
tendência dos preços é de alta, e, em contrário, oferta maior que
a procura, tendência de baixa. Uma pergunta poderia responder o que
está ocorrendo nesse mercado: existe um touro chamado C.A. Sansão
que há anos ocupa a liderança no ranking de animais da raça GIR
provados no Teste de Progênie executado pela EMBRAPA – gado de
leite – em parceria com a ABCGIL e Sumário da ABCZ/UNESP levando-o
a ser considerado um fenômeno na raça. Pois bem, qual o criador
brasileiro que não possui filhas desse touro? Somente aqueles que
não as desejaram. O mesmo pode-se afirmar em relação a outros
animais. A inseminação artificial possibilitou isso. Mas essa, não
pode ser considerada, em absoluto, a única justificativa para o
desaquecimento do mercado. Outra questão levada a efeito foi a opção
de funcionalidade única dada a raça, o leite, ignorando outras
possibilidades como os cruzamentos industriais. Isso impediu a
criação de um rebanho brasileiro de produção para atender a
demanda dos criatórios que optaram por investir em genética. Gir é
leite, nada mais! Elegeram um mito para o marketing: altas lactações
individuais, como se elas traduzissem realidades dos currais. Um erro
imperdoável! Atualmente, criadores da raça Nelore, na condição de
integrados, estão trabalhando cruzamento industrial com a raça
europeia Aberdeen Angus ou Red Angus com um ganho em torno de 30% a
mais que os bezerros convencionais na desmama. Um bezerro nelore na
desmama está sendo comercializado hoje, 24, a 650 reais.
Façam o cálculo do preço alcançado pelo produto oriundo do
cruzamento industrial? Fora da condição de integrado, obtém um
abate aos 18 meses com 16 arrobas para machos e 14 para fêmeas,
terminados em confinamento. As fêmeas resultante desse cruzamento (½
sangue nelore x angus) se retida no rebanho para a produção do
'tricross bovino' com a raça Wagyu (japonesa), ao produto desmamado
impõe-se um ganho de 50% aos bezerros nelore x nelore. O que dizer
da raça GIR possuidora do posterior mais avantajado de todos os
zebuínos; de mais fina e leve ossatura propiciando maior rendimento
de carcaça? Agora vamos fazer o cálculo em cima de 80 vacas GIR em
cruzamento industrial agregando a este 4 litros de leite/dia. 80 x 4
= 320 x 0.80 R$ = 256.00R$ x 30 dias = 7.680 R$. Qual o custo com uma
vaca GIR para a produção diária de 4 litros de leite? Façam agora
a conta do rendimento obtido com a venda dos bezerros desmamados
acrescida do rendimento obtido pela venda do leite? Coloquem de um
lado as despesas e de outro a receita para uma relação de análise
custo/benefício. Quantos alqueires são necessários para a criação
de 80 vacas GIR paridas? Por outro lado, muitos foram os rebanhos
'gir leiteiro' que disponibilizaram 95% para a produção de mestiço
½ sangue com a raça holandesa ficando somente 5% para a reposição
GIR. Todos sabem que a renovação num rebanho mestiço leiteiro
ocorre após a 6ª lactação/indivíduo, propiciando uma demanda
extraordinária ao produtor desse mestiço ½ sangue. Não falo aqui
na produção de receptoras zebuínas pela pequena população de
fêmeas GIR sendo mais fácil a utilização do touro zebuíno de
aptidão leiteira em vacada nelore. Muitas campanhas se exaurem e
com elas os produtos quando o consumidor toma consciência de que ela
não traduz o resultado anunciado. Isso, foi o que aconteceu com a
raça GIR, quando lhe impuseram uma diferenciação exclusiva ao
afirmarem ser uma raça zebuína de funcionalidade única, produção
de leite.
Luiz Humberto Carrião
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