domingo, 24 de junho de 2012

Gir é leite, nada mais! Será?


Acompanhei aqui (facebook) comentários sobre a queda dos preços de animais da raça GIR na bolsa, notadamente, aquela referenciada pelos leilões. Não podemos esquecer que o mercado é regido por sua lei específica – oferta e procura – cuja relação determina o valor do produto. A equação é simples: se a oferta é menor do que a procura, a tendência dos preços é de alta, e, em contrário, oferta maior que a procura, tendência de baixa. Uma pergunta poderia responder o que está ocorrendo nesse mercado: existe um touro chamado C.A. Sansão que há anos ocupa a liderança no ranking de animais da raça GIR provados no Teste de Progênie executado pela EMBRAPA – gado de leite – em parceria com a ABCGIL e Sumário da ABCZ/UNESP levando-o a ser considerado um fenômeno na raça. Pois bem, qual o criador brasileiro que não possui filhas desse touro? Somente aqueles que não as desejaram. O mesmo pode-se afirmar em relação a outros animais. A inseminação artificial possibilitou isso. Mas essa, não pode ser considerada, em absoluto, a única justificativa para o desaquecimento do mercado. Outra questão levada a efeito foi a opção de funcionalidade única dada a raça, o leite, ignorando outras possibilidades como os cruzamentos industriais. Isso impediu a criação de um rebanho brasileiro de produção para atender a demanda dos criatórios que optaram por investir em genética. Gir é leite, nada mais! Elegeram um mito para o marketing: altas lactações individuais, como se elas traduzissem realidades dos currais. Um erro imperdoável! Atualmente, criadores da raça Nelore, na condição de integrados, estão trabalhando cruzamento industrial com a raça europeia Aberdeen Angus ou Red Angus com um ganho em torno de 30% a mais que os bezerros convencionais na desmama. Um bezerro nelore na desmama está sendo comercializado hoje, 24, a 650 reais. Façam o cálculo do preço alcançado pelo produto oriundo do cruzamento industrial? Fora da condição de integrado, obtém um abate aos 18 meses com 16 arrobas para machos e 14 para fêmeas, terminados em confinamento. As fêmeas resultante desse cruzamento (½ sangue nelore x angus) se retida no rebanho para a produção do 'tricross bovino' com a raça Wagyu (japonesa), ao produto desmamado impõe-se um ganho de 50% aos bezerros nelore x nelore. O que dizer da raça GIR possuidora do posterior mais avantajado de todos os zebuínos; de mais fina e leve ossatura propiciando maior rendimento de carcaça? Agora vamos fazer o cálculo em cima de 80 vacas GIR em cruzamento industrial agregando a este 4 litros de leite/dia. 80 x 4 = 320 x 0.80 R$ = 256.00R$ x 30 dias = 7.680 R$. Qual o custo com uma vaca GIR para a produção diária de 4 litros de leite? Façam agora a conta do rendimento obtido com a venda dos bezerros desmamados acrescida do rendimento obtido pela venda do leite? Coloquem de um lado as despesas e de outro a receita para uma relação de análise custo/benefício. Quantos alqueires são necessários para a criação de 80 vacas GIR paridas? Por outro lado, muitos foram os rebanhos 'gir leiteiro' que disponibilizaram 95% para a produção de mestiço ½ sangue com a raça holandesa ficando somente 5% para a reposição GIR. Todos sabem que a renovação num rebanho mestiço leiteiro ocorre após a 6ª lactação/indivíduo, propiciando uma demanda extraordinária ao produtor desse mestiço ½ sangue. Não falo aqui na produção de receptoras zebuínas pela pequena população de fêmeas GIR sendo mais fácil a utilização do touro zebuíno de aptidão leiteira em vacada nelore. Muitas campanhas se exaurem e com elas os produtos quando o consumidor toma consciência de que ela não traduz o resultado anunciado. Isso, foi o que aconteceu com a raça GIR, quando lhe impuseram uma diferenciação exclusiva ao afirmarem ser uma raça zebuína de funcionalidade única, produção de leite.

Luiz Humberto Carrião  

Nenhum comentário:

Postar um comentário