terça-feira, 26 de junho de 2012

Gir: do universal ao individual


Duas assertivas me chamaram a atenção nas reuniões de diretoria da ABCZ. Ambas defendidas por diretores que ocupavam o cargo de vice-presidente na entidade. Vicente Araújo de Souza Júnior, Vicentinho, ao afirmar que as decisões naquela mesa não poderiam tomar como referencial dados estatísticos levados a efeitos através de mensurações quando da entrada nos animais para a Expozebu, justificando que a realidade do campo era bem diferente. E é! Outra, defendida por Willian Koury, de que a pecuária de produção é que dá sustentação à pecuária de elite, entendendo como 'pecuária de elite', aquela cujo objetivo primordial trata-se do Melhoramento Genético como produto de mercado. E é! São assertivas corretíssimas levadas a efeito no universal em se tratando de discussões levadas a efeito pela entidade maior do Zebu, e que, de maneira alguma impedem que no individual, cada criador venha praticar esse melhoramento genético em seu rebanho dentro da objetividade de exploração a que se propõe, independente da raça escolhida. Aliás, aqui também assume um papel decisivo no sucesso do empreendimento. O melhor animal de corte não é o mais pesado, e sim, aquele que consegue maior velocidade de ganho de peso do seu nascimento ao abate com maior rendimento de carcaça e qualidade da carne, e, com relação a produção leiteira, já foi dito aqui, 'a melhor vaca não é a que produz mais leite, e sim, a que mais lucro propicia ao bolso do criador'. São visões que transcendem o romantismo dentro de uma visão empresarial moderna. Não é porque a raça Nelore, por exemplo, seja classificada como de função frigorífica que suas fêmeas não podem ser utilizadas como receptoras a embriões de aptidão leiteira. Não possui o reservatório (cisterna) no raças como a Gir, Guzerá ou Sindi, mas são ótimas em habilidade maternal, caso contrário não desmamariam bezerros pesados como o fazem; o mesmo diria com relação a raças convencionadas, 'em absoluto', como produtoras de leite, como a Gir, servirem a cruzamentos industriais para a produção de carne, se considerarmos seu posterior avantajado, a ossatura leve com um rendimento de carcaça extraordinário, além, é claro, da habilidade maternal associada a um rendimento extra que é a produção de leite. Então, não vejo o cruzamento industrial na raça Gir como falta de paciência, talento ou competência para fazer Melhoramento Genético em raça pura, e sim, uma opção num empreendimento. Infelizmente, no Brasil, todo criador de Gir, em específico, entende que o negócio é produzir genética. Sim, genética, porque o leite vem do mestiço com exceções de raríssimos currais. Ora, se todos trilharem por esse caminho, a produção de genética, o que pensar sobre a demanda? Trabalhar eternamente para a produção de animais melhoradores? E os animais melhorados, fazer o quê com eles? Traduzir a raça, no caso da Gir, em simples produção de lactações em Controles e Concursos leiteiros não é inteligente. Porque na visão do produtor de leite o mestiço ainda é a opção mais lucrativa. O romantismo alegra o coração e massageia o ego, mas todo negócio necessita de sustentabilidade a si mesmo e àquele que nele investe. Trata-se da pedra angular de qualquer empreendimento.

Luiz Humberto Carrião
www.blogdogir.blogspot.com
Ilustração: matriz GIR crioula do rebanho LHC (Luiz Humberto Carrião)      

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