Duas
assertivas me chamaram a atenção nas reuniões de diretoria da
ABCZ. Ambas defendidas por diretores que ocupavam o cargo de
vice-presidente na entidade. Vicente Araújo de Souza Júnior,
Vicentinho, ao afirmar que as decisões naquela mesa não poderiam
tomar como referencial dados estatísticos levados a efeitos através
de mensurações quando da entrada nos animais para a Expozebu,
justificando que a realidade do campo era bem diferente. E é! Outra,
defendida por Willian Koury, de que a pecuária de produção é que
dá sustentação à pecuária de elite, entendendo como 'pecuária
de elite', aquela cujo objetivo primordial trata-se do Melhoramento
Genético como produto de mercado. E é! São assertivas
corretíssimas levadas a efeito no universal em se tratando de
discussões levadas a efeito pela entidade maior do Zebu, e que, de
maneira alguma impedem que no individual, cada criador venha praticar
esse melhoramento genético em seu rebanho dentro da objetividade de
exploração a que se propõe, independente da raça escolhida.
Aliás, aqui também assume um papel decisivo no sucesso do
empreendimento. O melhor animal de corte não é o mais pesado, e
sim, aquele que consegue maior velocidade de ganho de peso do seu
nascimento ao abate com maior rendimento de carcaça e qualidade da
carne, e, com relação a produção leiteira, já foi dito aqui, 'a
melhor vaca não é a que produz mais leite, e sim, a que mais lucro
propicia ao bolso do criador'. São visões que transcendem o
romantismo dentro de uma visão empresarial moderna. Não é porque a
raça Nelore, por exemplo, seja classificada como de função
frigorífica que suas fêmeas não podem ser utilizadas como
receptoras a embriões de aptidão leiteira. Não possui o
reservatório (cisterna) no raças como a Gir, Guzerá ou Sindi, mas
são ótimas em habilidade maternal, caso contrário não desmamariam
bezerros pesados como o fazem; o mesmo diria com relação a raças
convencionadas, 'em absoluto', como produtoras de leite, como a Gir,
servirem a cruzamentos industriais para a produção de carne, se
considerarmos seu posterior avantajado, a ossatura leve com um
rendimento de carcaça extraordinário, além, é claro, da
habilidade maternal associada a um rendimento extra que é a produção
de leite. Então, não vejo o cruzamento industrial na raça Gir como
falta de paciência, talento ou competência para fazer Melhoramento
Genético em raça pura, e sim, uma opção num empreendimento.
Infelizmente, no Brasil, todo criador de Gir, em específico, entende
que o negócio é produzir genética. Sim, genética, porque o leite
vem do mestiço com exceções de raríssimos currais. Ora, se todos
trilharem por esse caminho, a produção de genética, o que pensar
sobre a demanda? Trabalhar eternamente para a produção de animais
melhoradores? E os animais melhorados, fazer o quê com eles?
Traduzir a raça, no caso da Gir, em simples produção de lactações
em Controles e Concursos leiteiros não é inteligente. Porque na
visão do produtor de leite o mestiço ainda é a opção mais
lucrativa. O romantismo alegra o coração e massageia o ego, mas
todo negócio necessita de sustentabilidade a si mesmo e àquele que
nele investe. Trata-se da pedra angular de qualquer empreendimento.
Luiz
Humberto Carrião
www.blogdogir.blogspot.com
Ilustração: matriz GIR crioula do rebanho LHC (Luiz Humberto Carrião)