sexta-feira, 30 de março de 2012

Os anseios e o tempo na vida de um girista


O tempo não existe: é apenas uma hipótese contingente da finitude do homem sobre a Terra, Gondin da Fonseca, na apresentação da obra de sua autoria: Camões e Miraguarda – a biografia de Camões de maior tiragem no mundo, editada pela Fulgor, 1962, São Paulo. Isto significa que, enquanto biologicamente eu não findar, tenho todo o tempo do mundo. Sempre gostei de dados estatísticos, quiçá, pela oportunidade de análise que nos proporciona. E o facebook tem propiciado a nós criadores de gir o que antanho não possuíamos para nortear um trabalho dentro da raça. Hoje, por exemplo, sabemos que uma vaca mestiça (gir x holandês) proporciona em produção 40% a mais que uma vaca gir, que para ser reconhecida como leiteira, terá que apresentar uma lactação, sem ajuste, em 305 dias, de 2.100 quilos de leite. Está aí, uma referência para o limite de corte dentro de um rebanho leiteiro. Uma vaca gir produzindo 2.100 quilos de leite em 305 dias, sua média será 6,88 quilos/dia durante a lactação, e se uma mestiça sobrepõe a esta em 40%, deverá produzir no mesmo período 2.940 quilos, à proporção de 9,63 quilos/média dia. Olhando a princípio parece uma coisa simples, de fácil alcance, mas não é. Existe nesse período de lactação uma curva de produção a ser observada, e é aí que a coisa pega. Notadamente àqueles que, como eu, tende a trabalhar com um manejo a pasto, suplementado após as duas ordenhas diárias com silagem de milho e ração apropriada para vacas em lactação à proporção de 1 x 3 (1 quilo de ração para cada 3 quilos de leite produzido). Mas é uma meta a ser perseguida. Pouco importa o % de resposta positiva dentro do rebanho a princípio, mas o melhoramento consiste nisso, além da observância de outros fatores como: ancestralidade conhecida, docilidade, fertilidade, posicionamento de úbere, tamanho de tetos, pelagem, adaptabilidade a ordenha mecânica, e outros de maior sofisticação como: teor de gordura e quantidade de sólidos. Não se faz melhoramento com o coração, mas com a razão. Por isso, o que não respondeu, necessariamente, tem e deve ser descartado. Iniciei este texto definindo o significado da palavra tempo, porque somente essa primeira etapa será de aproximadamente dois anos em referência aos animais em produção. Depois a continuidade com os que vão chegando. A conclusão que se tem sobre a profissionalização da atividade consiste em medir, medir e medir. Outro fator essencial é quanto a utilização dos touros, e nisso, concordo com o primeiro profissional que me deu assistência como criador: “o touro tem que estar dentro do seu botijão de sêmen e não no pasto com as vacas”. Aos que não agradam de animais leiteiros pelo seu exterior, ainda este mês teremos animais dentro do “padrão brasileiro” PROVADOS à disposição no mercado. Sem falar que no “leiteiro” existem animais que contemplam as exigências daquele padrão. Quanto aos produtos machos, há uma exigência nos primeiros meses de vida com relação a amamentação, e depois com a qualidade do pasto, às vezes requerendo suplementação através de silagem para que a velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate seja satisfatória. Vendê-los a invernistas não é tão compensatório como recriá-los, engordá-los e abatê-los. Principalmente havendo um escalonamento mensal neste abate. Apresenta-se como uma receita agregada à produção de leite. O mesmo com relação às fêmeas destinadas ao descarte, no meu caso, como sou produtor e não selecionador, o que não serve para mim, logicamente não servirá a outro cuja atividade seja similar a minha. Outro detalhe concerne às fêmeas mestiças com grau de sangue acima dos ¾. Não sei até onde é interessante mantê-las no rebanho leiteiro, ou comercializá-las logo após a desmama. Muitos acasalam as ¾ com outra raça europeia especializada em leite, outros fazem o retro cruzamento com a raça gir. Ainda não encontrei experiência comprovada neste sentido na literatura ou na rede social. Finalmente, vejo como de suma importância as associações promotora das raças trabalharem junto as autoridades governamentais a elaboração de uma política para o setor, o mesmo também por nós que utilizamos da rede para expressar nossas opiniões. O governo tem sido complacente com a liberdade de preços estabelecida pelos laticínios através de cartelização, ou da importação de leite em pó e o uso de subprodutos do leite na produção de produtos lácteos. Uma caminhada começa pelo primeiro passo, e este precisa ser dado com uma certa urgência. A força da internet atualmente é algo fundamental e ser utilizada em função do alcance que possui. Não adianta avançarmos na produção e sermos sacrificados pelo mercado.

Luiz Humberto Carrião     
Será inseminada (IATF) neste final de semana

Com Espanto AMJ MOT 36 (participante TP/GIRGOIÁS)
(Krishna II POI DC x Douçura da Mata WL)


















Mantra LHC - 68
(Saturno da SJ x Carveta Pati da Cal)


















Será inseminada (IATF) neste final de semana

Com Feitiço da Saudade
(Kassudi da Lagoa x Brisa da Saudade)


















Vitória Régia LHC - 51
(Sagrado ZS x Safira Juma Camponesa)
Serão inseminadas (IATF) neste final de semana

Com Pushpano Kassudi Krishna Dhamal II POI da SJ B - 3767
(Puhspano Kassudi DC 599 x Krishna Dhamal II DC 362)


















Rivera da SJ - B 3880
(Marzufe da SJ x Dhamal II da SJ)



















Bárbara Bela LHC - 54
(Saturno da SJ x Diplomata LHC)















OBS: O bezerro ao pé é filho do PKKD II POI da SJ



Serão inseminadas (IATF) neste final de semana

Com Saturno da São João B - 1258
(Jaipur da SJ x Lili da SJ) 


















Grécia da Saudade ADAO 694
(Lord da Saudade x Dançarina da Saudade)



















Califórnia AMJ MOT 17
(Lord da Saudade x Higiene da São José)











O gir na linha do horizonte onde o Céu se encontra com a Terra

Enquanto a discussão em torno da palavra leiteiro qualificando a função da raça se arrasta no pelas redes sociais o girolando vai "comendo pelas beiradas", como dizem os mineiros. Através de uma postagem no facebook o criador Ramilton Rosa afirma: "Quando comparamos as melhores fêmeas da raça gir com as melhores da girolando, encontraremos uma diferença em aproximadamente 40% em favor da girolando, se consideramos um grupo de 10 indivíduos de cada raça. Se compararmos as 1000 primeiras de cada grupo, a diferença sobe para uns 55%". São dados estatísticos, embora não oficiais como muito bem salienta Ramilton, que precisam ser objeto de profunda e realística reflexão diante da situação da raça gir no Brasil. Observo que uma mudança acentuada ocorreu na produção individual dos animais. As matrizes de rebanhos denominados "padrão" quando lactadas oficialmente no mesmo manejo utilizado nos rebanhos "leiteiros" se igualaram as estas, inclusive nas chamadas "altas lactações". E aí? Aquelas que eram consideradas como o "patinho feio" dentro da raça no quesito funcionalidade desmitificou toda uma realidade sustentada pelo marketing. Na linha do horizonte quando o céu encontrou com a terra ficou tudo igual. Todavia, a obsessão pela palavra leiteiro se fez presente da mesma forma que o quesito beleza e cabeça para os criadores de "padrão". Isso remete-se a uma análise de que os criadores de gir no Brasil não são um grupo, e sim, vários digladiando-se pelo óbvio, enquanto o girolando, composto entre as raças gir e holandesa avança sobre os currais leiteiros. Sua consolidação irá ocorrer no momento em que o produto macho se enquadrar na cadeia produtiva pecuária brasileira para a produção de carne, já que a fêmea como produtora de leite está consolidada. É uma questão de trabalho rumo a esse objetivo. Faço a leitura de que a consolidação do macho girolando na cadeia produtiva dependerá do material genético a ser utilizado no cruzamento com a raça holandesa, no caso o gir. E esse material genético gir PROVADO está muito mais próximo do que possamos imaginar. Quem viver verá! Então, novamente na linha do horizonte o céu se encontrará com a terra... Será então a vez da competência! A hora da verdade na linha de produção, seja ela comercial ou de elite. Como diziam os antigos: a hora da onça beber água. Renato Pires Cardoso ao fazer um questionamento sobre o girolando como raça pura sintética definiu a função da raça gir: "... que mérito tem os criadores de girolando até agora, digo como raça, pois por enquanto o que fizemos foi somente aproveitar o melhor de duas raças puras..." Quanto maior a seletividade dentro do gir e do holandês, melhor será o rebanho da pecuária comercial de duplo propósito no Brasil voltada à quantidade de produção: produtividade! Quantas lactações aguenta uma vaca oriunda desse cruzamento? Qual a disponibilidade comercial desses animais no Brasil? Será que o exterior interessará nesse tipo de animal? O preço de um bom animal desses está condizente com a realidade do preço do leite pago ao produtor? Quantas matrizes gir precisaríamos para atender somente a demanda interna desse mestiço? Será que o rebanho gir existente no Brasil consegue dar suporte à atividade frigorífica? A exclusividade de exploração econômica leiteira da raça gir no Brasil se viabilizará com os dados estatísticos apresentado pelo girolando? A poesia voltou ao gir, só que agora, com muito mais vigor!
Fico com a assertiva do José Manoel Vargas Ribeiro. à qual acresço mais uma palavra: O melhor gir ou girolando, não é aquele que produz mais leite, e sim, aquele que dá mais lucro no bolso do produtor.

Luiz Humberto Carrião           

quinta-feira, 29 de março de 2012

"O melhor Girolando não é aquele que produz mais leite..."






"Aqueles que estão colocando todos os ovos na mesma cesta sabem do risco que correm. O lucro não pode sobrepor como fez até agora a sobrevivência do Planeta, e com ele, a Humanidade. Esta, como consumidora, se encontra na outra ponta da cadeia produtiva e se conscientizou do perigo eminente. Mais do que discursos, exige providências".

"O melhor girolando não é aquele que produz mais leite, e sim, aquele que dá mais lucro no bolso do produtor", assim publicou no facebook José Manoel Vargas Ribeiro em concordância com a frase:  "Na minha opinião: sobreviverá o gir que produzir o melhor girolando", exarada por este que vos escreve. Ora, caros leitores, quando adquirir a primeira propriedade e comecei a caminhar por minhas próprias pernas, fui olhar uns bezerros mestiços (3/4 de sangue) para comprar, na verdade fazer uma aplicação de economias de meu salário advindo do giz e cuspe. Naquela oportunidade tinha em mente estruturar uma atividade voltada para a produção leiteira levando em conta o tamanho da propriedade adquirida, e talvez por isso, não olhei os animais com os olhos que deveria. Foi então que o amigo que me acompanhava disse: "quem tira leite não muda cerca". Você já deve ter ouvido isso. Hoje, passados quase três décadas nada mudou. Praticar a atividade produtora de leite no Brasil é um caso  muito sério. Naquela época, existia por parte das cooperativas o que se denominava de "Cotas", isto é, a média da produção durante da seca era mantida em termos de preços durante as águas. O farelo de soja era barato, o de trigo era comercializado por um preço quase que simbólico. Hoje, estamos a mercê da cartelização levada a efeito pelos laticínios. A pecuária de elite por sua vez, está voltada não para a pecuária de produção, e sim, para competições acirradas entre criadores em busca de marketing, totalmente alheia à realidade produtiva dos currais brasileiros. Talvez, isso explica o porque da utilização de touros da raça nelore, tabapuã e outras raças de corte em rebanhos leiteiros. Notadamente, entre os médios e pequenos produtores. Existe aí a necessidade de outro valor agregado à atividade. Concordo em gênero, número e grau de que um animal não dá leite, e sim, produz leite, e nesse processo, a alimentação e nutrição são fatores determinantes. Todavia, não se pode desconhecer que, da mesma maneira que existem animais que respondem de maneira positiva ao manejo alimentar superior, ao uso de substâncias fármacas, existem também animais que correspondem melhor ao manejo alimentar a pasto do que outros. E estes, muita das vezes numa relação custo/beneficio por litro de leite produzido, dão mais lucro do que aqueles. Daí a necessidade do animal certo no lugar certo, e um contínuo cálculo aritmético a cada baixa no preço do leite pago ao produtor, ou, aumento dos insumos. Ouço muito a frase: não existe mais espaços para amadores na pecuária brasileira. Sim! Concordo. Mas também não podemos desconhecer que o produtor por menor que seja tem essa consciência, talvez, até mesmo por sobreviver de seu negócio. Sempre fiz a leitura de que o produtor que vive do seu negócio, não pode tratar de sua vaca, ela, sim, é que tem que tratar dele. Outro detalhe, eu, particularmente, estou muito satisfeito com os produtos mestiço (1/2 sangue) Gir x Holandês ou mesmo Gir x Gir com relação a velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate quando não sacrificados em sua amamentação e bem nutricionalizados (nem sei se essa palavra existe, se não, está aí um neologismo) e alimentados após da desmama. Num país em que não existe classificação de carcaça, onde depois do abate tudo vira "carne de vaca" no gancho do açougue ou nas gôndolas dos supermercados; onde os frigoríficos (a exemplo dos laticínios) impõem sua "soberana vontade" através de cartelização aos olhos do governo, sonhar com estruturas como a norte americana ou européia é fugir de nossa realidade. Aqui a realidade é bem outra. Na prática a concepção do produtor não é a mesma do selecionador ou colecionador. Não entro em discussões sobre a existência ou não de raça de dupla aptidão, mas a pecuária de duplo propósito sim! Mesmo porque a cada dia torna-se visível os elementos que vão determinar o poder no mundo dentro em breve: água potável, energia e alimentação. A pressão sobre os mananciais aquíferos já é uma realidade. Isto não é exigência de países ricos ou pobres, e sim, da própria humanidade. Pensar em um retrocesso no processo de industrialização do mundo é algo sem cogitação, e no quesito, energia, que move essa industrialização, a alternativa (não fóssil) produzida no Brasil, o álcool, está classificada como "avançada" por vários aspectos: matéria prima utilizada - cana de açúcar, ao contrário de outros países que se utilizam de grãos, e, além disso, trata-se de uma fonte de energia renovável; a questão relacionada com a emissão de poluentes; bem como, a extraordinária tecnologia em motores desenvolvida para esse tipo de combustível; e, finalmente, a preocupação da FAO com a segurança alimentar. Se fizermos uma viagem imaginária pelo Brasil vamos deparar com a pressão da sociedade sobre as empresas agropecuárias no que diz respeito a consciência sócio-ambiental, e não fica aí, se estende a empresas urbanas, congressistas, gestores públicos, etc. Ao direcionarmos o olhar para os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, a produção de cana avança de maneira alucinante sobre as pastagens e lavouras. Na amazônia legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão - a oeste do meridiano 44º) a pressão contra a atividade agropecuária é internacional. Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Sudoeste Goiano e alguns Estados do Norte e Nordeste a produção de grãos procura seu espaço, onde também avança sobre a pecuária, notadamente a de corte. Assim que esses espaços vão sendo cerceados à pecuária, abre-se caminho para uma pecuária de duplo propósito num país tropical. Claro que não de maneira exclusiva. Sempre tenho falado de Caiapônia, sudoeste goiano, onde 70% de toda a produção de leite do município, uma das respeitáveis bacias leiteiras daquela região, provém dos assentamentos. Isso merece em termos de produção e produtividade, uma reflexão. Aqueles que estão colocando todos os ovos na mesma cesta sabem do risco que correm. O lucro não pode sobrepor como fez até agora a sobrevivência do Planeta, e com ele, a Humanidade. Esta, como consumidora, se encontra na outra ponta da cadeia produtiva e já se conscientizou do perigo eminente. Mais do que discursos, exige providências. E o mais importante de tudo isso, é que não somente a classe politica brasileira está sendo passada a limpo. Aqui nada mais somos do que parte do efeito dominó. Basta acompanhar os noticiários internacionais. Mudanças virão, não por ideologia, mas da necessidade de sobrevivência. A responsabilidade não é mais de uns poucos, e sim de todos. Longe de querer impor como verdade absoluta minhas idéias, mesmo porque verdade absolutas não existem, mas procuro com esse texto tentar contribuir de alguma maneira no sentido de que haverá espaço para dos os gostos e matizes dentro da raça gir: seja com a função específica para a produção de leite, seja para a produção de leite com valor agregado, seja para a produção de genética. O que não posso fazer neste momento, é desconhecer a raça girolando como um potencial enorme para o que advém pela frente.


Luiz Humberto Carrião   

terça-feira, 27 de março de 2012

Vermes da inveja e do ciúme

Nos diz Humberto de Campos: "... lembro-me de velha e valorosa árvore que conheci em minha primeira infância. Verde e forte, assemelhava-se a uma catedral na obra prodigiosa da Natureza. Cheia de ninhos, era o palácio das aves canoras que, em suas frondes, trinavam felizes. Tropeiros exaustos encontravam à sua sombra, que protegia cristalina fonte, o reconforto e a paz, o repouso e o abrigo. Lenhadores, de quando em quando, frutavam-lhe pedaços vivos e peregrinos ingratos roubavam-lhe ramos preciosos para utilidades diversas. Tempestades terríveis caíam sobre ela, anualmente, oprimindo-a e dilacerando-a, mas parecia refazer-se, sempre mais bela. Coriscos alcançaram-na em muitas ocasiões, mas a árvore robusta ressurgia, sublime. Ventanias furiosas, periodicamente, inclinavam-lhe a copa, decepando-lhe galhos vigorosos; a canícula demorada impunha-lhe pavorosa sede e a enxurrada costumava rodeá-la de pesados detritos... O tronco, porém, sempre adornado de milhares e milhares de folhas seivosas, parecia inabalável e invencível. Um dia, contudo, alguns bichinhos começaram a penetrá-la de modo imperceptível. Ninguém lhes conferia qualquer significação. Microscópicos, incolores, quase intangíveis, que mal poderiam fazer ao gigante do solo? Viajores e servos do campo não lhe identificaram a presença. Mas os bichinhos multiplicaram-se, indefinidade, invadiram as raízes e ganharam o coração da árvore vigorosa, devorando-o, pouco a pouco ... E o vegetal que superara as ameaças do céu e as tentações da Terra, em reduzido tempo, triste e emurchecido, transformava-se em lenho seco, destinado ao fogo."

Como essa valorosa árvore poderemos nos tornar "em lenho seco" se não acautelarmos contra os vermes da inveja e do ciúme, sempre dispostos a comandar o ser humano em sua mais estúpida bestialidade, revolvendo-o aos seus instintos mais primitivos. Como ser humano opte pelo caminho das águas que, "como um fio na serra encanta mais do que o mar".

Luiz Humberto Carrião   

sexta-feira, 23 de março de 2012

A raça gir é leiteira!

William Backer, vice-presidente e diretor executivo de criação da Backer Spielvogel Bates, Worldwide, assevera: "Um produto pode vender devido ao apelo lógico que exerce sobre a nossa mente, mas uma marca - ao contrário de um produto individual - forma-se emocionalmente com o passar do tempo e entra em nosso inconsciente numa maré de emoções, e não por meios lógicos. E serve então para ocupar um vazio que precisa ser preenchido pelo mito." 

Para Sal Randazzo, vice-presidente sênior da D'Arcy Masius Benton & Bowles em Nova York, "Os mitos representam sonhos coletivos, aspirações instintivas, sentimentos e padrões de pensamento da humanidade que parecem estar implantados nos seres humanos e que de alguma forma funcionam como instintos ao moldarem o nosso comportamento."

A raça gir foi importada da Índia para o Brasil no que pode-se classificar como um "apelo lógico", isto é, em observância à realidade existente em seu berço com a aqui existente depois de verificada a impossibilidade de povoar o território brasileiro com animais oriundos do velho continente europeu - o gir é apresentado como um produto -. Todavia, com o advento da raça nelore como produtora de carne e o mestiço na produção de leite, a raça gir ficou sem uma função econômica definida, quando então um grupo de criadores que faziam sua pressão seletiva para a produção láctea criou a marca "gir leiteiro" designando uma exclusividade funcional na raça, o leite. Essa marca adquiriu confiança do mercado e entrou no inconsciente de seus criadores "numa maré de emoções" que dava e dá prazer levando, inclusive, os mais recentes, a defendê-la com todas as suas forças de argumentação. Sente-se muito claro o prazer com que afirmam "sou criador de gir leiteiro", ou mesmo, por parte dos visitantes nos pavilhões em exposições: Olha o gado e pergunta, "é leiteiro"?

Venho chamando a atenção em meus textos para uma revolução silenciosa ocorrendo na raça gir. Raça que pela sua docilidade, diversidade de pelagens, reduzido número de indivíduos no rebanho brasileiro, ou mesmo, até pelo sentimento que a acompanhou da Índia ao Brasil, coloca seus criadores em posições diferentes aos de outras raças, da nelore, por exemplo. Na gir existe um apego diferenciado aos animais, por mais que tentam rechaçar, a poesia existe. O próprio calor dos debates ocorridos nas redes sociais comprovam isso. Essa revolução teve início quando a Fazenda Lapa Vermelha mostrou a potencialidade de produção de animais da raça gir com árvore genealógica fora da marca "gir leiteiro" convencionada à paternidade de touros provados em teste de progênie ABCGIL/EMBRAPA, e, mesmo, com criador Paulo Roberto Andrade Cunha, da Fazenda Genipapo, em Uberlândia, através de animais oriundos da Fazenda Favela, reconhecidamente identificada com o "gir padrão", desmitificando-se a trustmark (marca de confiança). A raça gir é leiteira! O que precisava era que os criadores tradicionais fizessem pesagens em seus rebanhos, e, a partir daí, um processo de melhoramento tomando como base animais selecionados com base em seu valor genético aferido. Alguém teria que colocar o ovo em pé!, depois...

Mas em todo esse processo ainda existe um gargalo: os touros provados compatíveis com as características exteriores das matrizes desses plantéis tradicionais. Não podemos negar que o Sumário Nacional de Touros  Zebuínos de Aptidão Leiteira da ABCZ/UNESP apresentam algumas alternativas, porém, ainda reduzidas e com certa dificuldade na aquisição de sêmen. Faço a leitura de que o resultado da 1ª bateria de touros do Teste de Progênie da GIRGOIÁS poderá suprir essa necessidade consolidando essa revolução.

Ilustração: Lord da Saudade (Krishneto x Baroda) touro integrante da 1ª bateria do TP - GIRGOIÁS

Luiz Humberto Carrião 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Teste de Progênie da GIRGOIÁS, o fiel da balança

Erraram aqueles que buscaram estabelecer duas raças gir no Brasil: uma denominada de "gir leiteiro" definida pela pressão seletiva em cima da produção leiteira, onde se chegou até criar um biotipo para esses animais, que, posteriormente a ciência veio contestá-lo como ineficiente; e, a existente desde as importações que recebeu a denominação de "dupla aptidão" ou "padrão", definida pelos criadores do "gir leiteiro" como uma raça improdutiva do ponto de vista econômico, ou quando muito, uma raça destinada a produção de carne ou então, com a pressão seletiva objetivando a beleza de seus exemplares.

Erroneamente, o "gir leiteiro" passou a ser definido pela ancestralidade paterna em sua árvore genealógica que é totalmente diferente do correto, a árvore de genes. Aquela é determinada através de um registro humano expedido por um cartório com fé publica configurando o nome do pai, avô, bisavô e assim por diante; e esta, por um gene, que não se contamina sexualmente, cuja característica apresentada num animal poderá ter vindo de um de seus pais, de um de seus quatro avós, de um de seus oito bisavós e assim por diante.

Como haver duas sub-espécies (raça) num país onde a ancestralidade gênica advém do mesmo tronco taxonômico o Bós Taurus Indicus? Simplesmente impossível! Ao menos que haja uma ingerência outros  genes na sua formação, no caso do Bós Taurus Taurus. Mas neste caso, teria o que se convencionou a chamar de raça receber a denominação de sub-raça, sub-produto, mestiço, etc..

Criou-se no inconsciente coletivo que a raça gir possui desde a sua origem uma vocação única, o leite. Porém, se reportarmos ao seu berço, a Índia, todas as sub-espécies zebuínas estão identificadas pela tradição religiosa  para a produção de leite ou tração, e como a gir é uma das que possuem reservatório que possibilita alimentar a cria com um excedente para o uso humano, tinha realmente que ser identificada como produtora de leite. Só que a realidade brasileira é outra. Aqui comercializa-se também a proteína vermelha através da carne. Chegou-se a afirmar que o zebu havia fechado no Brasil: a nelore para a produção de carne e a gir para a produção de leite. 

Essa função exclusiva, produção de leite, começou a levar questionamentos ao inconsciente coletivo: o que fazer com as crias que não responderam à produção leiteira estabelecida pela convenção? O que fazer com os produtos machos que não tiveram êxito no mercado como reprodutores? O que fazer com o descarte? Na nova ordenação econômica mundial não há mais espaços para experimentos ou mesmo amadorismo. Daí veio a necessidade do então "gir leiteiro" buscar porte em seus animais, e por outro lado, o "gir padrão" a identificar em seus rebanhos, através de controle leiteiro, animais para uma seletividade eficiente e eficaz.

Neste processo a surpresa ficou por conta do "gir padrão" que possui matrizes em competitividade com o "gir leiteiro", inclusive, no que se convencionou chamar de "altíssimas lactações", acima de 12 mil quilos de leite em 305 dias. A partir de então, uma mudança no discurso: "toda vaca gir com produção acima de 2.500 quilos de leite em uma lactação de 305 dias é "gir leiteiro". Como? Então no caso de duas irmãs inteiras (próprias) uma atingir 2.501 quilos é considerada "gir leiteiro" e a outra com 2.499 será "gir padrão"? Com isso, chega-se a dedução de que todo criador de gir no Brasil, indistintamente, cria duas raças, o "gir leiteiro" e o "gir padrão".

Mas não fica somente nisso. A ABCZ - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - em parceria com a UNESP - Universidade de São Paulo - (Jaboticabal - SP) levou a efeito a produção de um Sumário Nacional de Touros Zebuínos Leiteiros, dentre eles os da raça gir, que possuam no mínimo 4 filhas em 3 propriedade diferentes e, o que muitos não acreditavam, outra surpresa, a extraordinária colocação de animais gir "classificados" como "gir padrão" naquele Sumário.

Agora a raça gir se encontra diante de outra expectativa, o resultado da primeira bateria de touros do Teste de Progênie levado a efeito pela AGCG - Associação Goiana dos Criadores de Gir - mais conhecida como GIRGOIÁS em parceria com a EMBRAPA - gado de leite -, onde a prioridade foi a avaliação de animais de ancestralidade genealógica ainda não testada, com isso, a predominância de touros "gir padrão". Será um resultado conclusivo para a raça no Brasil. A se tomar como referência as vacas "gir padrão" em seus controles leiteiros, não tenho dúvidas, de que o resultado dos touros consolidará a revolução que ocorre na raça.

O resultado sai agora em maio, resta saber se seu anúncio será durante a Expozebu, em Uberaba, ou se na Exposição Estadual Agropecuária de Goiânia, na cidade homônima.

* Ilustração: Amapoan da Saudade, eleita por este Blog como o símbolo dessa revolução na raça gir

Luiz Humberto Carrião