sexta-feira, 30 de março de 2012

Os anseios e o tempo na vida de um girista


O tempo não existe: é apenas uma hipótese contingente da finitude do homem sobre a Terra, Gondin da Fonseca, na apresentação da obra de sua autoria: Camões e Miraguarda – a biografia de Camões de maior tiragem no mundo, editada pela Fulgor, 1962, São Paulo. Isto significa que, enquanto biologicamente eu não findar, tenho todo o tempo do mundo. Sempre gostei de dados estatísticos, quiçá, pela oportunidade de análise que nos proporciona. E o facebook tem propiciado a nós criadores de gir o que antanho não possuíamos para nortear um trabalho dentro da raça. Hoje, por exemplo, sabemos que uma vaca mestiça (gir x holandês) proporciona em produção 40% a mais que uma vaca gir, que para ser reconhecida como leiteira, terá que apresentar uma lactação, sem ajuste, em 305 dias, de 2.100 quilos de leite. Está aí, uma referência para o limite de corte dentro de um rebanho leiteiro. Uma vaca gir produzindo 2.100 quilos de leite em 305 dias, sua média será 6,88 quilos/dia durante a lactação, e se uma mestiça sobrepõe a esta em 40%, deverá produzir no mesmo período 2.940 quilos, à proporção de 9,63 quilos/média dia. Olhando a princípio parece uma coisa simples, de fácil alcance, mas não é. Existe nesse período de lactação uma curva de produção a ser observada, e é aí que a coisa pega. Notadamente àqueles que, como eu, tende a trabalhar com um manejo a pasto, suplementado após as duas ordenhas diárias com silagem de milho e ração apropriada para vacas em lactação à proporção de 1 x 3 (1 quilo de ração para cada 3 quilos de leite produzido). Mas é uma meta a ser perseguida. Pouco importa o % de resposta positiva dentro do rebanho a princípio, mas o melhoramento consiste nisso, além da observância de outros fatores como: ancestralidade conhecida, docilidade, fertilidade, posicionamento de úbere, tamanho de tetos, pelagem, adaptabilidade a ordenha mecânica, e outros de maior sofisticação como: teor de gordura e quantidade de sólidos. Não se faz melhoramento com o coração, mas com a razão. Por isso, o que não respondeu, necessariamente, tem e deve ser descartado. Iniciei este texto definindo o significado da palavra tempo, porque somente essa primeira etapa será de aproximadamente dois anos em referência aos animais em produção. Depois a continuidade com os que vão chegando. A conclusão que se tem sobre a profissionalização da atividade consiste em medir, medir e medir. Outro fator essencial é quanto a utilização dos touros, e nisso, concordo com o primeiro profissional que me deu assistência como criador: “o touro tem que estar dentro do seu botijão de sêmen e não no pasto com as vacas”. Aos que não agradam de animais leiteiros pelo seu exterior, ainda este mês teremos animais dentro do “padrão brasileiro” PROVADOS à disposição no mercado. Sem falar que no “leiteiro” existem animais que contemplam as exigências daquele padrão. Quanto aos produtos machos, há uma exigência nos primeiros meses de vida com relação a amamentação, e depois com a qualidade do pasto, às vezes requerendo suplementação através de silagem para que a velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate seja satisfatória. Vendê-los a invernistas não é tão compensatório como recriá-los, engordá-los e abatê-los. Principalmente havendo um escalonamento mensal neste abate. Apresenta-se como uma receita agregada à produção de leite. O mesmo com relação às fêmeas destinadas ao descarte, no meu caso, como sou produtor e não selecionador, o que não serve para mim, logicamente não servirá a outro cuja atividade seja similar a minha. Outro detalhe concerne às fêmeas mestiças com grau de sangue acima dos ¾. Não sei até onde é interessante mantê-las no rebanho leiteiro, ou comercializá-las logo após a desmama. Muitos acasalam as ¾ com outra raça europeia especializada em leite, outros fazem o retro cruzamento com a raça gir. Ainda não encontrei experiência comprovada neste sentido na literatura ou na rede social. Finalmente, vejo como de suma importância as associações promotora das raças trabalharem junto as autoridades governamentais a elaboração de uma política para o setor, o mesmo também por nós que utilizamos da rede para expressar nossas opiniões. O governo tem sido complacente com a liberdade de preços estabelecida pelos laticínios através de cartelização, ou da importação de leite em pó e o uso de subprodutos do leite na produção de produtos lácteos. Uma caminhada começa pelo primeiro passo, e este precisa ser dado com uma certa urgência. A força da internet atualmente é algo fundamental e ser utilizada em função do alcance que possui. Não adianta avançarmos na produção e sermos sacrificados pelo mercado.

Luiz Humberto Carrião     

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