O tempo
não existe: é apenas uma hipótese contingente da finitude do homem
sobre a Terra, Gondin da Fonseca, na apresentação da
obra de sua autoria: Camões e Miraguarda – a biografia de Camões
de maior tiragem no mundo, editada pela Fulgor, 1962, São Paulo.
Isto significa que, enquanto biologicamente eu
não findar, tenho todo o tempo do mundo. Sempre gostei de dados
estatísticos, quiçá, pela oportunidade de análise que nos
proporciona. E o facebook tem
propiciado a nós criadores de gir o que antanho não possuíamos
para nortear um trabalho dentro da raça. Hoje, por exemplo, sabemos
que uma vaca mestiça (gir x holandês) proporciona em produção 40%
a mais que uma vaca gir, que para ser reconhecida como leiteira, terá
que apresentar uma lactação, sem ajuste, em 305 dias, de 2.100
quilos de leite. Está aí, uma referência para o limite de corte
dentro de um rebanho leiteiro. Uma vaca gir produzindo 2.100 quilos
de leite em 305 dias, sua média será 6,88 quilos/dia durante a
lactação, e se uma mestiça sobrepõe a esta em 40%, deverá
produzir no mesmo período 2.940 quilos, à proporção de 9,63
quilos/média dia. Olhando a princípio parece uma coisa simples, de
fácil alcance, mas não é. Existe nesse período de lactação uma
curva de produção a ser observada, e é aí que a coisa pega.
Notadamente àqueles que, como eu, tende a trabalhar com um manejo a
pasto, suplementado após as duas ordenhas diárias com silagem de
milho e ração apropriada para vacas em lactação à proporção de
1 x 3 (1 quilo de ração para cada 3 quilos de leite produzido). Mas
é uma meta a ser perseguida. Pouco importa o % de resposta positiva
dentro do rebanho a princípio, mas o melhoramento consiste nisso,
além da observância de outros fatores como: ancestralidade
conhecida, docilidade, fertilidade, posicionamento de úbere, tamanho
de tetos, pelagem, adaptabilidade a ordenha mecânica, e outros de
maior sofisticação como: teor de gordura e quantidade de sólidos.
Não se faz melhoramento com o coração, mas com a razão. Por isso,
o que não respondeu, necessariamente, tem e deve ser descartado.
Iniciei este texto definindo o significado da palavra tempo, porque
somente essa primeira etapa será de aproximadamente dois anos em
referência aos animais em produção. Depois a continuidade com os
que vão chegando. A conclusão que se tem sobre a profissionalização
da atividade consiste em medir, medir e medir. Outro fator essencial
é quanto a utilização dos touros, e nisso, concordo com o primeiro
profissional que me deu assistência como criador: “o touro tem que
estar dentro do seu botijão de sêmen e não no pasto com as vacas”.
Aos que não agradam de animais leiteiros pelo seu exterior, ainda
este mês teremos animais dentro do “padrão brasileiro” PROVADOS
à disposição no mercado. Sem falar que no “leiteiro” existem
animais que contemplam as exigências daquele padrão. Quanto aos
produtos machos, há uma exigência nos primeiros meses de vida com
relação a amamentação, e depois com a qualidade do pasto, às
vezes requerendo suplementação através de silagem para que a
velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate seja satisfatória.
Vendê-los a invernistas não é tão compensatório como recriá-los,
engordá-los e abatê-los. Principalmente havendo um escalonamento
mensal neste abate. Apresenta-se como uma receita agregada à
produção de leite. O mesmo com relação às fêmeas destinadas ao
descarte, no meu caso, como sou produtor e não selecionador, o que
não serve para mim, logicamente não servirá a outro cuja atividade
seja similar a minha. Outro detalhe concerne às fêmeas mestiças
com grau de sangue acima dos ¾. Não sei até onde é interessante
mantê-las no rebanho leiteiro, ou comercializá-las logo após a
desmama. Muitos acasalam as ¾ com outra raça europeia especializada
em leite, outros fazem o retro cruzamento com a raça gir. Ainda não
encontrei experiência comprovada neste sentido na literatura ou na
rede social. Finalmente, vejo como de suma importância as
associações promotora das raças trabalharem junto as autoridades
governamentais a elaboração de uma política para o setor, o mesmo
também por nós que utilizamos da rede para expressar nossas
opiniões. O governo tem sido complacente com a liberdade de preços
estabelecida pelos laticínios através de cartelização, ou da
importação de leite em pó e o uso de subprodutos do leite na
produção de produtos lácteos. Uma caminhada começa pelo primeiro
passo, e este precisa ser dado com uma certa urgência. A força da
internet atualmente é algo fundamental e ser utilizada em função
do alcance que possui. Não adianta avançarmos na produção e
sermos sacrificados pelo mercado.
Luiz
Humberto Carrião
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