quinta-feira, 29 de março de 2012

"O melhor Girolando não é aquele que produz mais leite..."






"Aqueles que estão colocando todos os ovos na mesma cesta sabem do risco que correm. O lucro não pode sobrepor como fez até agora a sobrevivência do Planeta, e com ele, a Humanidade. Esta, como consumidora, se encontra na outra ponta da cadeia produtiva e se conscientizou do perigo eminente. Mais do que discursos, exige providências".

"O melhor girolando não é aquele que produz mais leite, e sim, aquele que dá mais lucro no bolso do produtor", assim publicou no facebook José Manoel Vargas Ribeiro em concordância com a frase:  "Na minha opinião: sobreviverá o gir que produzir o melhor girolando", exarada por este que vos escreve. Ora, caros leitores, quando adquirir a primeira propriedade e comecei a caminhar por minhas próprias pernas, fui olhar uns bezerros mestiços (3/4 de sangue) para comprar, na verdade fazer uma aplicação de economias de meu salário advindo do giz e cuspe. Naquela oportunidade tinha em mente estruturar uma atividade voltada para a produção leiteira levando em conta o tamanho da propriedade adquirida, e talvez por isso, não olhei os animais com os olhos que deveria. Foi então que o amigo que me acompanhava disse: "quem tira leite não muda cerca". Você já deve ter ouvido isso. Hoje, passados quase três décadas nada mudou. Praticar a atividade produtora de leite no Brasil é um caso  muito sério. Naquela época, existia por parte das cooperativas o que se denominava de "Cotas", isto é, a média da produção durante da seca era mantida em termos de preços durante as águas. O farelo de soja era barato, o de trigo era comercializado por um preço quase que simbólico. Hoje, estamos a mercê da cartelização levada a efeito pelos laticínios. A pecuária de elite por sua vez, está voltada não para a pecuária de produção, e sim, para competições acirradas entre criadores em busca de marketing, totalmente alheia à realidade produtiva dos currais brasileiros. Talvez, isso explica o porque da utilização de touros da raça nelore, tabapuã e outras raças de corte em rebanhos leiteiros. Notadamente, entre os médios e pequenos produtores. Existe aí a necessidade de outro valor agregado à atividade. Concordo em gênero, número e grau de que um animal não dá leite, e sim, produz leite, e nesse processo, a alimentação e nutrição são fatores determinantes. Todavia, não se pode desconhecer que, da mesma maneira que existem animais que respondem de maneira positiva ao manejo alimentar superior, ao uso de substâncias fármacas, existem também animais que correspondem melhor ao manejo alimentar a pasto do que outros. E estes, muita das vezes numa relação custo/beneficio por litro de leite produzido, dão mais lucro do que aqueles. Daí a necessidade do animal certo no lugar certo, e um contínuo cálculo aritmético a cada baixa no preço do leite pago ao produtor, ou, aumento dos insumos. Ouço muito a frase: não existe mais espaços para amadores na pecuária brasileira. Sim! Concordo. Mas também não podemos desconhecer que o produtor por menor que seja tem essa consciência, talvez, até mesmo por sobreviver de seu negócio. Sempre fiz a leitura de que o produtor que vive do seu negócio, não pode tratar de sua vaca, ela, sim, é que tem que tratar dele. Outro detalhe, eu, particularmente, estou muito satisfeito com os produtos mestiço (1/2 sangue) Gir x Holandês ou mesmo Gir x Gir com relação a velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate quando não sacrificados em sua amamentação e bem nutricionalizados (nem sei se essa palavra existe, se não, está aí um neologismo) e alimentados após da desmama. Num país em que não existe classificação de carcaça, onde depois do abate tudo vira "carne de vaca" no gancho do açougue ou nas gôndolas dos supermercados; onde os frigoríficos (a exemplo dos laticínios) impõem sua "soberana vontade" através de cartelização aos olhos do governo, sonhar com estruturas como a norte americana ou européia é fugir de nossa realidade. Aqui a realidade é bem outra. Na prática a concepção do produtor não é a mesma do selecionador ou colecionador. Não entro em discussões sobre a existência ou não de raça de dupla aptidão, mas a pecuária de duplo propósito sim! Mesmo porque a cada dia torna-se visível os elementos que vão determinar o poder no mundo dentro em breve: água potável, energia e alimentação. A pressão sobre os mananciais aquíferos já é uma realidade. Isto não é exigência de países ricos ou pobres, e sim, da própria humanidade. Pensar em um retrocesso no processo de industrialização do mundo é algo sem cogitação, e no quesito, energia, que move essa industrialização, a alternativa (não fóssil) produzida no Brasil, o álcool, está classificada como "avançada" por vários aspectos: matéria prima utilizada - cana de açúcar, ao contrário de outros países que se utilizam de grãos, e, além disso, trata-se de uma fonte de energia renovável; a questão relacionada com a emissão de poluentes; bem como, a extraordinária tecnologia em motores desenvolvida para esse tipo de combustível; e, finalmente, a preocupação da FAO com a segurança alimentar. Se fizermos uma viagem imaginária pelo Brasil vamos deparar com a pressão da sociedade sobre as empresas agropecuárias no que diz respeito a consciência sócio-ambiental, e não fica aí, se estende a empresas urbanas, congressistas, gestores públicos, etc. Ao direcionarmos o olhar para os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, a produção de cana avança de maneira alucinante sobre as pastagens e lavouras. Na amazônia legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão - a oeste do meridiano 44º) a pressão contra a atividade agropecuária é internacional. Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Sudoeste Goiano e alguns Estados do Norte e Nordeste a produção de grãos procura seu espaço, onde também avança sobre a pecuária, notadamente a de corte. Assim que esses espaços vão sendo cerceados à pecuária, abre-se caminho para uma pecuária de duplo propósito num país tropical. Claro que não de maneira exclusiva. Sempre tenho falado de Caiapônia, sudoeste goiano, onde 70% de toda a produção de leite do município, uma das respeitáveis bacias leiteiras daquela região, provém dos assentamentos. Isso merece em termos de produção e produtividade, uma reflexão. Aqueles que estão colocando todos os ovos na mesma cesta sabem do risco que correm. O lucro não pode sobrepor como fez até agora a sobrevivência do Planeta, e com ele, a Humanidade. Esta, como consumidora, se encontra na outra ponta da cadeia produtiva e já se conscientizou do perigo eminente. Mais do que discursos, exige providências. E o mais importante de tudo isso, é que não somente a classe politica brasileira está sendo passada a limpo. Aqui nada mais somos do que parte do efeito dominó. Basta acompanhar os noticiários internacionais. Mudanças virão, não por ideologia, mas da necessidade de sobrevivência. A responsabilidade não é mais de uns poucos, e sim de todos. Longe de querer impor como verdade absoluta minhas idéias, mesmo porque verdade absolutas não existem, mas procuro com esse texto tentar contribuir de alguma maneira no sentido de que haverá espaço para dos os gostos e matizes dentro da raça gir: seja com a função específica para a produção de leite, seja para a produção de leite com valor agregado, seja para a produção de genética. O que não posso fazer neste momento, é desconhecer a raça girolando como um potencial enorme para o que advém pela frente.


Luiz Humberto Carrião   

2 comentários:

  1. Muito legal o Blog Parabéns
    muio bom conteúdo Girolando e Gir Leiteiro
    www.estanciatamburil.com.br

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  2. Muito legal o Blog Parabéns
    muio bom conteúdo Girolando e Gir Leiteiro
    www.estanciatamburil.com.br

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