Erraram aqueles que buscaram estabelecer duas raças gir no Brasil: uma denominada de "gir leiteiro" definida pela pressão seletiva em cima da produção leiteira, onde se chegou até criar um biotipo para esses animais, que, posteriormente a ciência veio contestá-lo como ineficiente; e, a existente desde as importações que recebeu a denominação de "dupla aptidão" ou "padrão", definida pelos criadores do "gir leiteiro" como uma raça improdutiva do ponto de vista econômico, ou quando muito, uma raça destinada a produção de carne ou então, com a pressão seletiva objetivando a beleza de seus exemplares.
Erroneamente, o "gir leiteiro" passou a ser definido pela ancestralidade paterna em sua árvore genealógica que é totalmente diferente do correto, a árvore de genes. Aquela é determinada através de um registro humano expedido por um cartório com fé publica configurando o nome do pai, avô, bisavô e assim por diante; e esta, por um gene, que não se contamina sexualmente, cuja característica apresentada num animal poderá ter vindo de um de seus pais, de um de seus quatro avós, de um de seus oito bisavós e assim por diante.
Como haver duas sub-espécies (raça) num país onde a ancestralidade gênica advém do mesmo tronco taxonômico o Bós Taurus Indicus? Simplesmente impossível! Ao menos que haja uma ingerência outros genes na sua formação, no caso do Bós Taurus Taurus. Mas neste caso, teria o que se convencionou a chamar de raça receber a denominação de sub-raça, sub-produto, mestiço, etc..
Criou-se no inconsciente coletivo que a raça gir possui desde a sua origem uma vocação única, o leite. Porém, se reportarmos ao seu berço, a Índia, todas as sub-espécies zebuínas estão identificadas pela tradição religiosa para a produção de leite ou tração, e como a gir é uma das que possuem reservatório que possibilita alimentar a cria com um excedente para o uso humano, tinha realmente que ser identificada como produtora de leite. Só que a realidade brasileira é outra. Aqui comercializa-se também a proteína vermelha através da carne. Chegou-se a afirmar que o zebu havia fechado no Brasil: a nelore para a produção de carne e a gir para a produção de leite.
Essa função exclusiva, produção de leite, começou a levar questionamentos ao inconsciente coletivo: o que fazer com as crias que não responderam à produção leiteira estabelecida pela convenção? O que fazer com os produtos machos que não tiveram êxito no mercado como reprodutores? O que fazer com o descarte? Na nova ordenação econômica mundial não há mais espaços para experimentos ou mesmo amadorismo. Daí veio a necessidade do então "gir leiteiro" buscar porte em seus animais, e por outro lado, o "gir padrão" a identificar em seus rebanhos, através de controle leiteiro, animais para uma seletividade eficiente e eficaz.
Neste processo a surpresa ficou por conta do "gir padrão" que possui matrizes em competitividade com o "gir leiteiro", inclusive, no que se convencionou chamar de "altíssimas lactações", acima de 12 mil quilos de leite em 305 dias. A partir de então, uma mudança no discurso: "toda vaca gir com produção acima de 2.500 quilos de leite em uma lactação de 305 dias é "gir leiteiro". Como? Então no caso de duas irmãs inteiras (próprias) uma atingir 2.501 quilos é considerada "gir leiteiro" e a outra com 2.499 será "gir padrão"? Com isso, chega-se a dedução de que todo criador de gir no Brasil, indistintamente, cria duas raças, o "gir leiteiro" e o "gir padrão".
Mas não fica somente nisso. A ABCZ - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - em parceria com a UNESP - Universidade de São Paulo - (Jaboticabal - SP) levou a efeito a produção de um Sumário Nacional de Touros Zebuínos Leiteiros, dentre eles os da raça gir, que possuam no mínimo 4 filhas em 3 propriedade diferentes e, o que muitos não acreditavam, outra surpresa, a extraordinária colocação de animais gir "classificados" como "gir padrão" naquele Sumário.
Agora a raça gir se encontra diante de outra expectativa, o resultado da primeira bateria de touros do Teste de Progênie levado a efeito pela AGCG - Associação Goiana dos Criadores de Gir - mais conhecida como GIRGOIÁS em parceria com a EMBRAPA - gado de leite -, onde a prioridade foi a avaliação de animais de ancestralidade genealógica ainda não testada, com isso, a predominância de touros "gir padrão". Será um resultado conclusivo para a raça no Brasil. A se tomar como referência as vacas "gir padrão" em seus controles leiteiros, não tenho dúvidas, de que o resultado dos touros consolidará a revolução que ocorre na raça.
O resultado sai agora em maio, resta saber se seu anúncio será durante a Expozebu, em Uberaba, ou se na Exposição Estadual Agropecuária de Goiânia, na cidade homônima.
* Ilustração: Amapoan da Saudade, eleita por este Blog como o símbolo dessa revolução na raça gir
Luiz Humberto Carrião
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