sexta-feira, 23 de março de 2012

A raça gir é leiteira!

William Backer, vice-presidente e diretor executivo de criação da Backer Spielvogel Bates, Worldwide, assevera: "Um produto pode vender devido ao apelo lógico que exerce sobre a nossa mente, mas uma marca - ao contrário de um produto individual - forma-se emocionalmente com o passar do tempo e entra em nosso inconsciente numa maré de emoções, e não por meios lógicos. E serve então para ocupar um vazio que precisa ser preenchido pelo mito." 

Para Sal Randazzo, vice-presidente sênior da D'Arcy Masius Benton & Bowles em Nova York, "Os mitos representam sonhos coletivos, aspirações instintivas, sentimentos e padrões de pensamento da humanidade que parecem estar implantados nos seres humanos e que de alguma forma funcionam como instintos ao moldarem o nosso comportamento."

A raça gir foi importada da Índia para o Brasil no que pode-se classificar como um "apelo lógico", isto é, em observância à realidade existente em seu berço com a aqui existente depois de verificada a impossibilidade de povoar o território brasileiro com animais oriundos do velho continente europeu - o gir é apresentado como um produto -. Todavia, com o advento da raça nelore como produtora de carne e o mestiço na produção de leite, a raça gir ficou sem uma função econômica definida, quando então um grupo de criadores que faziam sua pressão seletiva para a produção láctea criou a marca "gir leiteiro" designando uma exclusividade funcional na raça, o leite. Essa marca adquiriu confiança do mercado e entrou no inconsciente de seus criadores "numa maré de emoções" que dava e dá prazer levando, inclusive, os mais recentes, a defendê-la com todas as suas forças de argumentação. Sente-se muito claro o prazer com que afirmam "sou criador de gir leiteiro", ou mesmo, por parte dos visitantes nos pavilhões em exposições: Olha o gado e pergunta, "é leiteiro"?

Venho chamando a atenção em meus textos para uma revolução silenciosa ocorrendo na raça gir. Raça que pela sua docilidade, diversidade de pelagens, reduzido número de indivíduos no rebanho brasileiro, ou mesmo, até pelo sentimento que a acompanhou da Índia ao Brasil, coloca seus criadores em posições diferentes aos de outras raças, da nelore, por exemplo. Na gir existe um apego diferenciado aos animais, por mais que tentam rechaçar, a poesia existe. O próprio calor dos debates ocorridos nas redes sociais comprovam isso. Essa revolução teve início quando a Fazenda Lapa Vermelha mostrou a potencialidade de produção de animais da raça gir com árvore genealógica fora da marca "gir leiteiro" convencionada à paternidade de touros provados em teste de progênie ABCGIL/EMBRAPA, e, mesmo, com criador Paulo Roberto Andrade Cunha, da Fazenda Genipapo, em Uberlândia, através de animais oriundos da Fazenda Favela, reconhecidamente identificada com o "gir padrão", desmitificando-se a trustmark (marca de confiança). A raça gir é leiteira! O que precisava era que os criadores tradicionais fizessem pesagens em seus rebanhos, e, a partir daí, um processo de melhoramento tomando como base animais selecionados com base em seu valor genético aferido. Alguém teria que colocar o ovo em pé!, depois...

Mas em todo esse processo ainda existe um gargalo: os touros provados compatíveis com as características exteriores das matrizes desses plantéis tradicionais. Não podemos negar que o Sumário Nacional de Touros  Zebuínos de Aptidão Leiteira da ABCZ/UNESP apresentam algumas alternativas, porém, ainda reduzidas e com certa dificuldade na aquisição de sêmen. Faço a leitura de que o resultado da 1ª bateria de touros do Teste de Progênie da GIRGOIÁS poderá suprir essa necessidade consolidando essa revolução.

Ilustração: Lord da Saudade (Krishneto x Baroda) touro integrante da 1ª bateria do TP - GIRGOIÁS

Luiz Humberto Carrião 

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