“Os
instrumentos da teoria semiótica permitem entender melhor o emprego
múltiplo do termo imagem numa campanha de marketing. Ora se parece
com a visão natural, ora se constrói de um paralelismo
qualificativo. É através da imagem que se associa o consumidor ao
produto numa observância de fidelidade”
Escrever
não tem meio termo, é fácil ou impossível (royalties
ao cineasta goiano João Bênio). Mas é preciso ao menos
tentar. Tão difícil como escrever é entender o que foi escrito. A
linguagem escrita de alcance universal, mesmo que através de idiomas
e dialetos diferenciados é que possibilita ao homem, mesmo
consciente de que a diferença entre ele e um mono é de menos de 2%
em suas programações genéticas, sobrepor a este e a todo reino
animal. Isto de certa forma, abriu um fosso aparentemente
intransponível entre o homem e o “animal”, embora estejamos
classificados taxionomicamente no mesmo reino. Como assevera Jared
Diamond, “dentre nossas características únicas está o fato de
falarmos, escrevermos e construirmos máquinas complexas”, aliás,
máquinas, que se tivessem a capacidade de se auto programar
provavelmente não estaria aqui escrevendo esse texto. Pois bem! Uma
das mais fantásticas criações humanas utilizando-se do escrever,
ler e entender foi a propaganda, no sentido de propagar um
determinado produto através da publicidade, no sentido de tornar
publico o que se deseja propagar. E neste contexto, imagem e
linguagem se integram num só corpo, numa só alma. Tanto a imagem
pode ilustrar um texto verbal, como este pode esclarecer uma imagem.
Numa campanha de mídia, o primeiro passo é a criação do MITO.
Este é que irá habitar o inconsciente coletivo na ação
publicitária. Esse mito, tem necessariamente que ser preservado para
que haja efeito positivo e duradouro numa campanha. Um dos
gargalos em campanhas de mídia está relacionado a substituição
desses MITOS. A raça gir,
importada da Índia para o Brasil, não veio de maneira aleatória.
Houve por parte dos pioneiros dessa importação todo um estudo
comparativo entre a realidade física estrutural do berço do zebu
com a aqui existente. E não é só isso, a busca por raças que
tivessem adequada adaptabilidade à realidade brasileira se tornou
necessária pela dificuldade em aqui serem reproduzidas, com eficácia
e eficiência, as raças europeias de onde partiu todo o nosso
processo colonizatório. A literatura mostra a estreita ligação da
raça gir com a palavra Zebu. Por longos anos o zebu, leia-se
germoplasma gir, predominou sobre o rebanho pecuário brasileiro até
o advento de explosão da raça nelore para a produção de carne, e
do mestiço, para a produção de leite. Os fatores que determinaram
esse novo status quo na pecuária brasileira são sobejamente
conhecidos, não carece aqui detalhamentos. A partir de então,
aqueles que não migraram para a atividade frigorífica com a raça
nelore, ou que, em muitos casos passaram para a atividade agrícola,
mantiveram seus planteis gir em sua 'pureza racial de origem', ou
passaram a utilizar-se da raça para produzir o mestiço através do
sucesso leiteiro alcançado pelo 'vigor hibrido' que esse
cruzamento propicia em cruzamentos com raças leiteiras especializadas europeias. Nunca acreditei na escuridão, e sim na ausência
de luz. E uma vela foi acesa novamente à raça no Brasil, só que
agora, através de uma especificidade mais explicita em sua
funcionalidade, a produção de leite. Não vejo também aqui, a
necessidade de discussão a respeito se deve ou não agregar o fator
carne nesta funcionalidade. Tal qual os pioneiros nas importações,
esses criadores que identificaram a gir, como a raça zebuína
propícia a produção de leite, também tiveram suas
odisseias. E foi em de um desses planteis que acreditaram na raça
como excelência láctea, que nasceu o mito C.A. Everest,
responsável pela implantação no inconsciente coletivo das pessoas
que a raça gir, ao contrário do que se imaginava, é produtora de
leite sim! E dentro de uma relação custo benefício, viável sim!
Querendo uns e não querendo outros. E neste sentido, a imagem do
touro C.A. Everest integra um só corpo, uma só alma, quando se fala
em raça gir como produtora de leite no Brasil e nos países
tropicais. Apesar de seu filho, C.A. Sansão havê-lo superado
comercialmente, quando se fala em C.A. Sansão a imagem referência e
a do pai, C.A. Everest, O MITO. Mito que ainda dá sustentabilidade a
campanha de marketing a uma das raças zebuínas produtoras de leite
por excelência. Quando da manifestação sobre a divulgação em
rede social de alcance mundial da foto desse MITO ao final de sua
vida, foi mais no sentido de preservar o que foi construído através
DELE ao longo da história do gir no Brasil como MITO. Nada mais
além disso! UMA QUESTÃO MUITO MAIS CIENTÍFICA DO QUE DE SENSO
COMUM.
Luiz
Humberto Carrião
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