sexta-feira, 20 de abril de 2012

C.A EVEREST, o mito


Os instrumentos da teoria semiótica permitem entender melhor o emprego múltiplo do termo imagem numa campanha de marketing. Ora se parece com a visão natural, ora se constrói de um paralelismo qualificativo. É através da imagem que se associa o consumidor ao produto numa observância de fidelidade”

Escrever não tem meio termo, é fácil ou impossível (royalties ao cineasta goiano João Bênio). Mas é preciso ao menos tentar. Tão difícil como escrever é entender o que foi escrito. A linguagem escrita de alcance universal, mesmo que através de idiomas e dialetos diferenciados é que possibilita ao homem, mesmo consciente de que a diferença entre ele e um mono é de menos de 2% em suas programações genéticas, sobrepor a este e a todo reino animal. Isto de certa forma, abriu um fosso aparentemente intransponível entre o homem e o “animal”, embora estejamos classificados taxionomicamente no mesmo reino. Como assevera Jared Diamond, “dentre nossas características únicas está o fato de falarmos, escrevermos e construirmos máquinas complexas”, aliás, máquinas, que se tivessem a capacidade de se auto programar provavelmente não estaria aqui escrevendo esse texto. Pois bem! Uma das mais fantásticas criações humanas utilizando-se do escrever, ler e entender foi a propaganda, no sentido de propagar um determinado produto através da publicidade, no sentido de tornar publico o que se deseja propagar. E neste contexto, imagem e linguagem se integram num só corpo, numa só alma. Tanto a imagem pode ilustrar um texto verbal, como este pode esclarecer uma imagem. Numa campanha de mídia, o primeiro passo é a criação do MITO. Este é que irá habitar o inconsciente coletivo na ação publicitária. Esse mito, tem necessariamente que ser preservado para que haja efeito positivo e duradouro numa campanha.  Um dos gargalos em campanhas de mídia está relacionado a substituição desses MITOS. A raça gir, importada da Índia para o Brasil, não veio de maneira aleatória. Houve por parte dos pioneiros dessa importação todo um estudo comparativo entre a realidade física estrutural do berço do zebu com a aqui existente. E não é só isso, a busca por raças que tivessem adequada adaptabilidade à realidade brasileira se tornou necessária pela dificuldade em aqui serem reproduzidas, com eficácia e eficiência, as raças europeias de onde partiu todo o nosso processo colonizatório. A literatura mostra a estreita ligação da raça gir com a palavra Zebu. Por longos anos o zebu, leia-se germoplasma gir, predominou sobre o rebanho pecuário brasileiro até o advento de explosão da raça nelore para a produção de carne, e do mestiço, para a produção de leite. Os fatores que determinaram esse novo status quo na pecuária brasileira são sobejamente conhecidos, não carece aqui detalhamentos. A partir de então, aqueles que não migraram para a atividade frigorífica com a raça nelore, ou que, em muitos casos passaram para a atividade agrícola, mantiveram seus planteis gir em sua 'pureza racial de origem', ou passaram a utilizar-se da raça para produzir o mestiço através do sucesso leiteiro alcançado pelo 'vigor hibrido' que esse cruzamento propicia em cruzamentos com raças leiteiras especializadas europeias. Nunca acreditei na escuridão, e sim na ausência de luz. E uma vela foi acesa novamente à raça no Brasil, só que agora, através de uma especificidade mais explicita em sua funcionalidade, a produção de leite. Não vejo também aqui, a necessidade de discussão a respeito se deve ou não agregar o fator carne nesta funcionalidade. Tal qual os pioneiros nas importações, esses criadores que identificaram a gir, como a raça zebuína propícia a produção de leite, também tiveram suas odisseias. E foi em de um desses planteis que acreditaram na raça como excelência láctea, que nasceu o mito C.A. Everest, responsável pela implantação no inconsciente coletivo das pessoas que a raça gir, ao contrário do que se imaginava, é produtora de leite sim! E dentro de uma relação custo benefício, viável sim! Querendo uns e não querendo outros. E neste sentido, a imagem do touro C.A. Everest integra um só corpo, uma só alma, quando se fala em raça gir como produtora de leite no Brasil e nos países tropicais. Apesar de seu filho, C.A. Sansão havê-lo superado comercialmente, quando se fala em C.A. Sansão a imagem referência e a do pai, C.A. Everest, O MITO. Mito que ainda dá sustentabilidade a campanha de marketing a uma das raças zebuínas produtoras de leite por excelência. Quando da manifestação sobre a divulgação em rede social de alcance mundial da foto desse MITO ao final de sua vida, foi mais no sentido de preservar o que foi construído através DELE ao longo da história do gir no Brasil como MITO. Nada mais além disso! UMA QUESTÃO MUITO MAIS CIENTÍFICA DO QUE DE SENSO COMUM.

Luiz Humberto Carrião  

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