Numa reunião ocorrida na sede da ASSOGIR - Associação Brasileira dos Criadores de Gir - no edifício sede da ABCZ - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - um acontecimento marcou a História da raça gir no Brasil. Quiçá, se não tivesse havido tamanha intransigência naquele momento, não teria a raça perdido tanto no tempo e no espaço. Era então presidente da ASSOGIR o empresário paulista Marco Antonio Pinseta, que havia adquirido o que sobrara do plantel JZ (José Zacarias Junqueira) e, somado a outros como a marca SJ (doutor Ene Sab), ZS (Zeide Sab), AG (Aderbal Góes) havia começado por onde outros com anos de estrada não haviam conseguido chegar. Pinseta para homenagear os patronais do gir, idealizou o que ficou conhecido como Conselho Superior da Raça. Um dia chegou a me confessar que a ideia inicial era para funcionar como uma espécie de Academia Brasileira de Letras, no sentido de reunir os giristas tradicionais, e, em contra partida, funcionar como um órgão consultivo junto à diretoria executiva. Porém, o que ele nunca imaginou era que aos invés de consultivo, dado ao prestígio de alguns de seus membros, esse Conselho acabaria se transformando em um órgão deliberativo, onde o presidente da associação passou a ser uma rainha da Inglaterra. Nessa época a ASSOGIR tinha por tradição duas cadeiras na mesa diretora da ABCZ, a segunda vice-presidência que esteve vitalícia ao doutor Vicente Araújo de Souza Junior, e outra, de diretor ocupada por indicação da diretoria. Pinseta, na condição de presidente, foi guindado ao posto juntamente com Vicentinho que o havia antecedido na ASSOGIR. A essa época, a convite do presidente Pinseta, embora sócio da entidade, porém, não fazendo parte da diretoria, era convidado a participar das reuniões mensais que ocorriam na segunda terça-feira de cada mês, data esta em que era também realizada a reunião geral de diretoria da ABCZ. Numa dessas reuniões o presidente Pinseta trás para a ASSOGIR a notícia de que o Ministério da Agricultura e Abastecimento havia liberado uma verba no valor de 50 mil reais, via ABCZ, para contemplar o Melhoramento Genético na Raça Gir. Mas como existiam e ainda existem duas associações nacionais promotoras da raça, a ASSOGIR e a ABCGIL - Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro -, o presidente da ABCZ se viu numa saia justa, quando então solicitou ao seu diretor e presidente da ASSOGIR que tentasse viabilizar junto a ABCGIL uma ação conjunta para a utilização dessa verba, mesmo porque a ASSOGIR não possuía um projeto de melhoramento genético ao qual estava designado o emprenho da referida verba. Houve a princípio um contato com a ABCGIL e EMBRAPA - gado de leite - onde já era executado o Teste de Progênie em parceria com ABCGIL para uma reunião buscando um possível entendimento para que os touros de criadores associados à ASSOGIR fossem avaliados juntamente com os da ABCGIL. O saudoso pesquisador do CNPGL, Mário Luiz Martinez fez a apresentação do TP assessorado por demais pesquisadores e técnicos daquela unidade da EMBRAPA, porém logo o impasse: o primeiro de que os touros da maioria dos associados da ASSOGIR não possuíam mães com Controle Leiteiro Oficial, uma dos critérios para inscrição de um animal no teste. Mas isso, depois de algumas ponderações foi resolvido. Abriria-se uma exceção num primeiro momento, e depois de um certo tempo essa exigência seria obrigatória a todos. O segundo era a estimativa de participação de 20 touros naquela bateria, onde a ASSOGIR seria contemplada com a presença de 2 animais. "Como 2 animais se a ASSOGIR iria entrar com 50% daquela verba, além é claro, dos custos normais do teste", questionou de imediato um diretor da ASSOGIR. Martinez, como era chamado, coordenador do TP afirmou que assim que os touros da ASSOGIR atendessem os critérios de pré-seleção, poderia se chegar até ao patamar de 50%, isso era o de menos. Contudo, a posição do presidente do Conselho Superior da Raça, senhor Zeid Sab e de mais alguns de seus pares, deixava claro que um consenso jamais seria alcançado. Agora, eram dois presidentes de saia justa: o da ABCZ que teria que dividir a verba entre duas associações, e o da ASSOGIR, que sem o acordo em torno da participação da ASSOGIR no Teste de Progênie, não teria como utilizar a verba se não criasse um programa de melhoramento genético a ser executado pela entidade que presidia. Na próxima reunião de diretoria esse assunto urgia uma solução, pois, caso não fosse a verba utilizada naquele ano, seria devolvida ao Ministério o que, de certa forma, dificultaria novas ações neste sentido junto ao órgão. A intransigência da maioria dos membros do Conselho Superior da Raça, que se alinhavam com o presidente "bateu o martelo" pela não participação no TP ABCGIL/EMBRAPA. Os ânimos se exaltaram quando o presidente do Conselho Superior não aceitou uma proposta de licença ao presidente Pinseta, para que o vice-assumisse e fosse até ao presidente da ABCZ levar o resultado da decisão. A posição do Conselho era clara: ou o presidente iria até ao presidente da ABCZ e levava a decisão da reunião, ou renunciasse, licença jamais. O presidente Pinseta levantou, dirigiu-se a uma máquina de datilografia na qual redigiu sua carta renúncia, no que foi acompanhado pelo secretário da entidade, Adauto César de Castro e do diretor técnico, pesquisador da Embrapa, Duarte Vilela. De imediato, o Conselho Superior da Raça deu posse ao vice-presidente, senhora Leda Ferreira Góes que, diante da negativa agora da ABCGIL através de uma reunião marcada para Belo Horizonte, inclusive com a participação do diretor-técnico da ABCZ, senhor Luiz Antonio Josakian, buscou com o apoio do secretário geral do Ministério, Júlio Porcáro Puga, a estruturação de um Teste de Progênie em parceria com a EMBRAPA - arroz e feijão - e a YAKULT - Central de Produção e Comercialização de Sêmen -, o PMGRG - Programa de Melhoramento Genético da Raça Gir -.
Ilustração: Lançamento do PMGRG - Programa de Melhoramento Genético da Raça Gir - Goiânia/Goiás
Luiz Humberto Carrião
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