sexta-feira, 27 de abril de 2012

Gir, uma reflexão

Qualquer criador de gir, principalmente aquele que frequentou a EXPOZEBU tempos atrás, afirmar que não é prazeroso ver essa quantidade significativa de animas no maior evento de zebu do mundo, não está sendo sincero nem com ele mesmo. Agora, daí imaginar que a raça gir alcançou um crescimento extraordinário a ponto de ocupar uma liderança que até então foi da raça nelore é outra. Como era triste chegar em Uberaba e ver somente dois pavilhões abrigando a raça gir, e às vezes, um deles completado com outra raça zebuína de menor densidade populacional no Brasil. Não que o gir não devesse compartilhar um pavilhão com raças co-irmãs. Nada disso! Mas pela importância que ela teve na estruturação do zebu neste país, em dado momento servir de chacota aos criadores de outras raças, era ruim. Quantas vezes cheguei a ouvir que o problema do gir não era com a ABCZ, e sim com o IBAMA. Sei que se tratava de brincadeira, mas quando se gosta de uma raça, acredita nela é péssimo ouvir isso. A raça nelore continua a mesma, com pujança de sempre. O que mudou foi o foco sobre a pecuária de elite. A ação dos selecionadores para pista de Uberaba não estava conseguindo mais reação junto ao mercado. Os pecuaristas comerciais que procuravam animais melhoradores no desempenho produtivo de seu plantel entendeu o que estava acontecendo; por outro lado, investidores gostam é de dinheiro, estão pouco preocupados com esse negócio de padrão racial, pureza de origem etc. Eles também se aperceberam que o negócio era bem diferente. E começou por eles, a saga de liquidação de plantéis da raça nelore. Mas o liquidado foi o nelore da moda, aquele que alcançava peso através de alimentação balanceada e muita das vezes até acompanhado por um personal trainer, o nelore de pista. Enxergaram que o sucesso da pecuária de elite está em sua aceitação na pecuária comercial. O melhor cliente da pecuária de elite não é aquele que compra um animal caríssimo para logo em seguida tornar-se concorrente da mesma, é sim, o pecuarista comercial, que a cada 5 anos se vê na obrigação de renovar seus reprodutores. E quantos reprodutores novos essa pecuária comercial necessita por ano? Alguém já pesquisou esses dados? A pecuária comercial se reproduz utilizando de touros, porém, através de indivíduos que tragam resposta ao investimento. Outro problema na pecuária de elite da raça nelore, me confidenciada por um amigo que a praticava era o alto custo de preparação de um animal para a pista de Uberaba. Chegou a falar que num manejo adequado o gasto era de 200 reais por dia/animal, e quando o mesmo era vendido, ou contratado por um Central de Coleta e Comercialização de Sêmen não trazia o retorno necessário. Na verdade faço a leitura de que o que houve foi uma consciência da necessidade de dar um passo atrás, para uma reordenação e em seguida continuar a caminhada. E essa pessoa me dizia: "Carrião, cuidado! O gir está indo pelo mesmo caminho". E está! Os preços alcançados nos últimos leilões, a dificuldade em vender animais nos currais já é um sintoma claro de que o repensar da raça é uma necessidade premente. Vários são os indicativos para isso. Aonde estão os criadores de nelore que estavam investindo no gir? O mesmo pode-se perguntar sobre os investidores urbanos, aonde estão? O marketing levado a efeito sobre as 'altas lactações' na raça deixou de ser a grande atração do mercado; as vacas 'gpadrão' filhas de touros não provados e de mães não lactadas assim que colocadas em manejo em igualdade com as 'gleiteiro' deram resposta semelhante, o que de certa forma criou uma expectativa sobre o resultado da 1ª bateria do Teste de Progênie da GirGoiás; grande parte das matrizes gir adquiridas nos leilões encontram-se atualmente produzindo 1/2 sangue com a raça holandesa; os preços, apesar da euforia, vão acomodando para o desespero de muitos; o aperto com relação a exigência do padrão racial pela ABCZ tem levado a refugo uma quantidade significativa de animais adquiridos a preços bem acima da realidade de marcado. Não quero dizer com isso que com a volta da nelore às pista a gir irá voltar ao patamar de antanho, não! Ela sempre teve seu espaço na pecuária brasileira, o que precisa ao meu ver é defini-lo, encontrá-lo e ocupá-lo. Mas isso de maneira racional. Infelizmente, o óbvio é a verdade mais difícil de ser enxergada, mesmo diante de uma visibilidade explícita.

Luiz Humberto Carrião

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