Ao abrir minha caixa e-mail, ontem, 1º, deparei-me com uma notícia de mais um recorde quebrado de produção em concurso leiteiro. Na categoria vaca jovem, um animal alcançou o patamar (médio) de 40,387 quilos de leite, em evento encerrado 29/03/2012. Não quero discutir aqui o que acho dessas competições, do brutal sacrifício imposto ao animal, da teratogênese praticada pelos proprietários desses animais, etc. Nada disso! E sim o que isso acaba influenciando a todos nós criadores e selecionadores, mesmo sabendo que tudo isso não passa de artificialismo. Possuo um rebanho modesto estruturado a partir de animais que tive a felicidade de adquirir dos melhores plantéis do Brasil, como exemplo, do doutor Ene Sab, Zeid Sab, José Zacarias Junqueira (através do Adauto César de Castro e Marco Antonio Pinseta) e por fim, Alberto Ferreira Motta. Nunca me passou pela cabeça ser um selecionador de sementes puras de gir para a comercialização, e sim, um criador que através de um trabalho respaldado por uma controladoria pudesse ao menos empatar. Sempre pensei que o prazer que possuo junto ao gado gir, um 0 x 0 já estaria de bom tamanho, embora tenha sempre superado esse placar de maneira positiva. Sempre tive em mente a aquisição de fêmeas em que tivéssemos uma simbiose, no sentido de entendimento entre dois indivíduos: um animal e outro hominal. Se não houver isso dificilmente fica no rebanho. Parece loucura!, mas o animal tem essa capacidade. E o que os mais antigos chamavam de expressão. No olhar ele lhe diz tudo! Quanto aos machos sempre achei interessante trazê-los de fora, excetuando-se um ou outro animal que faça a diferença entre os seus pares. Talvez porque sempre vi no doutor Ene, no Zeid, no Edmardo e mais recentemente no Alberto Motta, selecionadores de uma capacidade extraordinária de acasalamento e de um olho de Lince nesse acasalamento. O Alberto Motta empolga muito mais com os produtos machos do que com fêmeas. Incrível isso! Mas é verdade. Produzem (ou produziam àqueles que se foram) muito satisfatoriamente. Também na adquisição de machos sempre houve a preocupação com a tal simbiose. Nunca fui de ficar escolhendo um touro para cada vaca, se tenho somente um como no passado recentemente, trabalha em todo o plantel. Se dois, faço uma divisão entre as vacas, e aí sim, uma análise de pedigree (sempre procurando o verdadeiro) e mesmo fenotípica nas fêmeas, e assim por diante. Atualmente tenho a felicidade de ter um funcionário que gosta de lidar com gado gir e é um excelente inseminador, então ando diversificando mais os acasalamentos, que sempre estarão presentes neste blog, bem como os produtos ao nascerem, e que estiverem sendo recriado dentro do rebanho. Como criador e não selecionador ou colecionador, engraçado, saíram com esse termo agora, colecionador, se ocorre demanda para os machos como reprodutores, são vendidos e com a receita adquiro animais mestiços da mesma idade para recria, engorda e abate. Caso contrario, dou a eles o mesmo destino dos mestiços. Com fêmeas que não enquadram numa característica fundamental a mim, docilidade ou mesmo secundárias como fertilidade e uma produção próxima a estabelecida na linha de corte, seguem a o caminho dos machos, recria, engorda e abate. Dois adendos: sobre a característica docilidade é porque a vejo como a mais fundamental à fêmea dirigida à funcionalidade leiteira; e quanto ao abate (fêmeas) é porque se não serve para mim como criador, evidentemente não servirá a outro. Com relação ao manejo existe também algumas observações do animal em relação ao meio. Utilizo o sistema de pastagem em de piquetes de aproximadamente 5 alqueires cada (mombaça ou braquiária) durante as águas e, palhada de soja ou milho durante a seca, com as vacas em lactação recebendo silagem de milho (na qual se preserva as espigas) e ração específica para produção de leite na proporção de 1 x 3, isto é, um quilo de ração para cada três quilos de leite produzido. Esse manejo exige uma atenção muito grande em relação a tamanho de umbigo nos machos, e úbere e tetos nas fêmeas. E aí, o assunto chega onde desejava. Num dado momento entendi que não compensava continuar registrando os animais em função das concessões que eram estabelecidas aos rebanhos tidos como leiteiros, e a exacerbada exigência aos rebanhos reconhecidos como padrão. Assim que tive um animal extraordinário negado seu registro por um técnico da ABCZ, sob a alegação de que faltava-lhe desenvolvimento, e que, na idade adulta (foto) a realidade foi bem outra, tanto no peso como na produção de leite, pude perceber que, no caso em específico, estava-se tomando como parâmetro animais preparados para exposições, e não a realidade do animal criado a pasto. Quando resolvi voltar ao registro estabeleci uma linha de corte na produção de leite presente na convenção de 2.100 quilos em uma lactação de 305 dias, sem ajuste, para que o animal fosse considerado leiteiro. A principio parece fácil diante da equação aritmética dividindo 2.100 por 305 que será igual a 6,88 quilos em duas ordenhas. Mas não é. Esses 6,88 quilos/leite/dia é de média em 305 dias. Esse período de lactação tem uma curva: ascendência, pico de produção e descendência. E aí, quando vemos uma vaca jovem produzir 40,387 quilos/leite/dia, mesmo no pico de sua lactação, o que nos parece uma vaca de 6,88 quilos/leite/dia? Sei que neste momento, os leitores estarão dizendo: Carrião, mas aquela pesagem refere-se a um animal no seu individual e não média de rebanho como você está propondo ao seu criatório. Carrião, aquela pesagem tem toda uma estrutura de manejo por trás, o que não ocorre nas vacas que você ordenha diariamente em seu curral. São verdades insofismáveis! Porém os 40,387 quilos/leite/dia encontra-se na mídia dia a dia e acaba como paradigma à raça! Isso é muito sério quando se olha para a raça em si! Quando se olha para média de rebanho! Mais sério ainda para aquele que está iniciando na criação da raça, ou não? Por isso, sou contra a esse tipo de competição. Que me desculpem! Precisamos passar a trabalhar em cima de média de rebanho, e não em cima de animais no sentido individual, que de maneira alguma representam a média do rebanho no qual está inserido.
Luiz Humberto Carrião