quinta-feira, 22 de novembro de 2012


Por que as revistas existem, abrem e fecham? Uma boa pergunta para a abertura do Capítulo 1 do livro Jornalismo de Revista / Maria Scalzo, 4ª. Ed. Ver. e atual. – São Paulo: Contexto, 2011.

Luiz Humberto Carrião
editor 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O ESTOUROU DA ‘BOLHA’


“NÃO SEI SE O TUMULTO DA COMERCIALIZAÇÃO ESTARIA CONTURBANDO ALGUMA COISA: PARECE QUE HÁ MUITOS TÍTULOS DE GIR E ESTÁ SOBRANDO ANIMAIS POR AÍ”.  Royalties a doutor Evaristo Soares de Paula. Anais do Simpósio Especial sobre a Raça Gir, 1989.

O posicionamento exclusivo e diferenciado ao GIR fez nascer uma marca poderosa e de absoluta confiança: GIR LEITEIRO. Uma ‘trustmark’. Imprimiu um conceito ‘brand’ indicando uma funcionalidade à raça significando sinal de qualidade e fator de diferenciação. Isto acabou por gerar uma relação de cumplicidade com seus consumidores ao oferecer satisfação e compensação no refletir do que ‘gosto’ e do que ‘preciso’. Ao incorporá-la culturalmente, o consumidor/criador projetou em sua personalidade o que é ser criador de GIR LEITEIRO: prazer, status, poder, etc.. A expressão passou a funcionar holisticamente autoafirmando sua identidade: ‘sou criador de GIR LEITEIRO’. O integrou em sociedade definindo, consciente e inconscientemente, suas atitudes: o que ‘quero’ e o que faço’. O ‘feedback’ de relações /experiências positivas com a expressão e melhores preços no mercado geraram uma cumplicidade tornando o consumidor/criador num advogado da causa. Crenças e valores ficaram confirmados e comprovados ao agregarem valores ao próprio consumidor estabelecendo um sentimento de gratificação e, consequentemente, de autoestima. Enche o peito para dizer: ‘sou criador de GIR LEITEIRO’. A cultura criada em torno da expressão GIR LEITEIRO projetou uma única aptidão selecionável e aceitável à raça, o leite. O GIR LEITEIRO passou a ser o legítimo representante da raça zebuína no Brasil. A palavra PADRÃO até então usada para diferenciar o importado (com chifres) da variedade mocha (sem chifres) criada no Brasil, passou a designar indivíduos que não recebiam o rótulo de GIR LEITEIRO, porém, enquadrados no ‘padrão racial’ exigido pelo SRG/ABCZ. Foi inclusive uma necessidade diante de tamanhas concessões do serviço cartorial ao GIR LEITEIRO no tocante ao padrão racial. Era como se houvessem duas raças Gir: ‘padrão’ e ‘leiteiro’. Há uma suspeição por parte dos ‘puristas’ de que o GIR LEITEIRO originou-se fora da consonância entre puros de origens, e sim, através de cruzamentos absorventes utilizando-se do LA (Livro aberto), onde após a segunda geração com paternidade PO (puro de origem) recebe a categoria PO. Fala-se, inclusive, em ingerência de outras raças na sua composição. Mas isso é assunto para outro texto. Marca poderosa e de confiança do mercado; cúmplice de seus consumidores; incorporada culturalmente à personalidade de seu criador/consumidor, autoafirmando sua identidade; integrando-o em sociedade através de crenças e valores externados num sentimento de gratificação e autoestima, não pode mais parar. Nunca! Gir é leite, leite, leite, leite, infinitamente, leite. O escritor João Ubaldo Ribeiro, num programa de entrevista dizia ‘que o Universo não é contra nem a favor, ele existe!’. O mesmo dia em relação ao Mercado. Não é contra, nem a favor. Ele existe. É indiferente. Porém, cobra caro pelo erro. Esse erro existiu? Sim! Ao invés de uma pressão seletiva para a produção de leite, objetivou-se a produção de lactações para dar sustentação ao ‘marketing’ da marca. Todo criador de GIR LEITEIRO tornou-se um selecionador tendo como objetivo de seu trabalho a comercialização de genética, seja através de sêmen, embriões ou animais vivos. E, para isso, o ‘status quo’ haveria de ser mantido. Os que saíram à frente foram seguidos de perto pelos que vinham atrás. A produtividade (quantidade de produção) de uma vaca Gir num curral foi substituída pela potencialidade de lactação nos Controles e Torneios Leiteiros. Resultado: a ‘bolha’ estourou.

“O PASSADO CONSOLIDOU POSIÇÕES DE PUREZA RACIAL, O FUTURO NOS RESERVA A EFICIÊNCIA RACIAL” [...] “É IMPOSSÍVEL UM PAÍS TROPICAL COMO O NOSSO PRETENDER TER UM MILHÃO DE SELECIONADORES DE SEMENTES ZEBUÍNAS PURAS”. Royalties ao doutor João Gilberto Rodrigues da Cunha. Anais do Simpósio Especial da Raça Gir, 1989.

Luiz Humberto Carrião.
Outubro/2012  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pupilos e pupilos


Pupilo [do latim pupilo] s. m. 1. Órfão menor a cargo de tutor; 2. Educando, colegial, aluno; 3. Fig. Protegido, valido. Assim o define o Novo Aurélio, 1999. Em todos os sentidos, inclusive no figurado, existe sua razão de ser. Pelas mãos de um tutor, um menor (pupilo) pode ser educado, tomando como referência a origem latina da palavra, ‘educere’, isto é, eduzir ou ‘por para fora’ valores que, em sociedade, sempre estarão a objetivar o respeito, direitos e deveres. Por outro lado, um educando, colegial ou aluno, ao contrário da educação, recebe através de um mestre e compêndios, a instrução [do latim instructiones], ato ou efeito de instruir, isto é, valer-se de conhecimentos já existente para o seu aperfeiçoamento; e, por último, em sentido figurado, protegido [part. de proteger, s.m. do latim protegere] dispensar proteção a; ajudar; auxiliar. Se por um lado a educação objetiva o sujeito, a instrução o predicado, a proteção consolida a formação. Aquele que protege age em reconhecimento aos talentos de seu pupilo. Educado, em situações adversas não odeia e nem vinga. Sabem por quê? Porque aprendeu que ‘nada é mais hipócrita que o perdão, e nada é mais violento que a vingança’. O talento, a educação e a instrução fazem dele um homem confiante em si mesmo, autorrealizado, independente da presença desse protetor ou não. Até entendo situações em que o pupilo não teve tutor, não teve ‘mestre’ e arredio aos livros pelo puxa-saquismo se fez protegido. O universo não é contra, nem a favor. Ele existe! Royalties a João Ubaldo Ribeiro.

O que faz do humano um ‘puxa-saco’? A expressão é registrada no dicionário Melhoramentos como s. m. e f. bajulador vil, adulador. A origem desse ato abominável, segundo alguns estudiosos, tem suas origens nos Chipanzés, organizados em uma hierarquia de comando, onde os mais fracos passam quase que todo o tempo disponível paparicando os mais fortes. O ritual consiste em beijar os pés do chefe, levar oferendas sem sentido (para nós humanos) como folhas e gravetos, até entrar na fila para fazer cafuné. “Seja por gene, seja por observação direta, o fato é que a chegada desse comportamento bizarro ao universo dos homens foi só um pulo”. Cientistas sociais costumam rotular a bajulação (puxa-saquismo) “como processo adaptativo para garantir a sobrevivência”. Para os cientistas, “segue os mesmos princípios da era das cavernas, mais tarde repetidos na adoração dos faraós e na adulação dos reis absolutos nos séculos seguintes, até se disseminar hoje como uma praga no mundo corporativo”. Para o ‘puxa-saco’ o desaparecimento do protetor significa o caos. Por isso, sua propensão à ‘patologia do vazio’ transmutada em agressões estúpidas e sem sentido.

Existem pupilos e pupilos. Uns, através da educação chegam ao estágio superior da evolução; outros, falto dela, continuam agir dentro de ‘seus instintos mais primitivos’, royalties a Roberto Jeferson.

Luiz Humberto Carrião

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Equação leiteira


Um estudo levado a efeito sobre a produção leiteira no Brasil no ano de 2011 apresentou o custo de produção de 0,67 centavos de real para o litro de leite remunerado a 0,80 cents produzindo um rendimento líquido que poderia chamar de lucro de 13 cents. Neste contexto, o empreendedor do setor, na ponta de produção da cadeia produtiva, o produtor de leite, para a obtenção de uma renda livre de um salário mínimo mensal (R$645,00) dependerá da produção de 4.961,53 litros de leite, correto? Para tal, terá que manter em ordenha diária, durante 30 dias, 10 vacas com uma produção média/diária de 16,43 litros de leite, o que não é fácil em conformidade com o rebanho nacional. Essa é a equação sobre o ganho real com a produção de leite equivalente a 1 salário mínimo mensal.

Tomando os dados referenciais acima, 10 produtos aparecerão como valor agregado à produção de leite. Provavelmente, 5 machos e 5 fêmeas, onde os machos desmamados alcançarão no mercado o preço de aproximadamente 350 reais na desmama e as fêmeas 550. Serão mais 4.500 reais, quase equivalente à receita proveniente do leite, o que em termos redondos poderíamos chegar a 2 salários mínimos mensais. Um propiciado pela produção de leite, e outro, pela venda dos produtos nascidos e comercializados na desmama.

Quantas vacas leiteiras de 16,43 litros/leite/dia seriam necessárias para a sobrevivência decente de um produtor rural?

Sim!... Ia me esquecendo. Se seus rendimentos mensais estiver entre 1.637,12 a 2.453,50 reais, não esqueça da alíquota de 7,5% do Imposto de renda; de 2.453,51 a 3.271,38, alíquota de 15%; de 3.271,39 a 4807,35 alíquota de 22,5% e, acima disso, alíquota de 27,5%.

Outra coisa. Se suas vacas foram mestiças gir x holandês, depois da 6ª lactação será providencial a troca das mesmas por animais de primeira cria.

Luiz Humberto Carrião

sábado, 30 de junho de 2012

A raça Gir e o Leite

Sou da opinião que a raça GIR em termos de potencialidade (mecânica) induzida já mostrou sua capacidade. Agora é tempo de mostrá-la em termos de média de ordenha. Sair do individual para o coletivo. Isto sim, dará a raça a condição de expansão nos currais leiteiros, notadamente, naqueles que se encontram em propriedades abaixo de 50 alqueires goianos (48.000 m2) que respondem por 70% do leite produzido no Brasil. Todavia, que isso seja levado a efeito através de um gado GIR PURO DE ORIGEM. A adjetivação 'padrão', 'dupla aptidão', leiteiro' pouco importa! Que seja um gado PURO DE ORIGEM e não, um gado muita das vezes holandesado que alcançou a categoria PO , porque neste caso, já existe uma realidade que é o mestiço (gir holandês). Aí sim! Poderemos partir para um debate, acima de tudo, real e consciente, e não revestido por uma maquiagem. Também, que essa capacidade de produção de leite seja trazida a efeito com a relação custo/benefício desse leite dentro da realidade de cada propriedade. Realidade essa que irá determinar sobre o custo desse leite. Não podemos dissociar esse custo dessa realidade e do manejo utilizado. Noutro dia, o Bolsanello emitia aqui a opinião da necessidade do VERDE na dieta do animal lactado, onde para ele, a silagem acaba entrando como concentrado. É um dado interessante que precisa ser estudado e resultados apresentados. Esse verde poderia advir de pastagens convencionais, ou, na falta dessa, poderia vir através de capim triturado (específicos) em mistura com a silagem? Esse uso do verde representa o que em % na produtividade láctea? Tudo isso se faz necessário para que possamos alcançar o patamar que desejamos para a raça. Mas antes de tudo, que seja levado a efeito a raça GIR com pureza de origem. Outro detalhe é com relação a qualidade do leite. A literatura nos revela que o leite é composto de sólidos e água. Os sólidos representam em torno de 13% e o restante 87% é água, aliás, uma substância em abundância no Brasil. Há que se empreender uma ação no sentido de que seja reconhecido de maneira real esse sólido por parte das industrias lácteas. O leite precisa ser deixado de ser medido pela quantidade de água, e sim, pelo percentual de sólidos. E não falo isso em termos de Concursos Leiteiros, não! Isso precisa ser valorizado é pelo laticínio. Um leite com maior percentual de sólidos não pode ser pago ao preço daquele com maior quantidade de água. Isso só é interessante para o laticínio no beneficiamento do mesmo na produção de alimentos lácteos sólidos. Neste momento o que assistimos em Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso em relação ao gado de corte? Entidades representativas da raça Nelore juntamente com os criadores em voz única contra o monopólio de um frigorífico que se mantém às custas de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com juros subsidiados promovendo sua expansão pela região produtora de carne no sentido de impor sobre o preço da arroba. Na pecuária leiteira a gente não vê isso. E ela se faz necessária, afinal, no Brasil as ações políticas só andam através de pressão. Temos que ter sempre em mente esse axioma.

Luiz Humberto Carrião
www.blogdogir.blogspot.com
Ilustração: matriz Gioconda LHC (Luiz Humberto Carrião)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Gir: do universal ao individual


Duas assertivas me chamaram a atenção nas reuniões de diretoria da ABCZ. Ambas defendidas por diretores que ocupavam o cargo de vice-presidente na entidade. Vicente Araújo de Souza Júnior, Vicentinho, ao afirmar que as decisões naquela mesa não poderiam tomar como referencial dados estatísticos levados a efeitos através de mensurações quando da entrada nos animais para a Expozebu, justificando que a realidade do campo era bem diferente. E é! Outra, defendida por Willian Koury, de que a pecuária de produção é que dá sustentação à pecuária de elite, entendendo como 'pecuária de elite', aquela cujo objetivo primordial trata-se do Melhoramento Genético como produto de mercado. E é! São assertivas corretíssimas levadas a efeito no universal em se tratando de discussões levadas a efeito pela entidade maior do Zebu, e que, de maneira alguma impedem que no individual, cada criador venha praticar esse melhoramento genético em seu rebanho dentro da objetividade de exploração a que se propõe, independente da raça escolhida. Aliás, aqui também assume um papel decisivo no sucesso do empreendimento. O melhor animal de corte não é o mais pesado, e sim, aquele que consegue maior velocidade de ganho de peso do seu nascimento ao abate com maior rendimento de carcaça e qualidade da carne, e, com relação a produção leiteira, já foi dito aqui, 'a melhor vaca não é a que produz mais leite, e sim, a que mais lucro propicia ao bolso do criador'. São visões que transcendem o romantismo dentro de uma visão empresarial moderna. Não é porque a raça Nelore, por exemplo, seja classificada como de função frigorífica que suas fêmeas não podem ser utilizadas como receptoras a embriões de aptidão leiteira. Não possui o reservatório (cisterna) no raças como a Gir, Guzerá ou Sindi, mas são ótimas em habilidade maternal, caso contrário não desmamariam bezerros pesados como o fazem; o mesmo diria com relação a raças convencionadas, 'em absoluto', como produtoras de leite, como a Gir, servirem a cruzamentos industriais para a produção de carne, se considerarmos seu posterior avantajado, a ossatura leve com um rendimento de carcaça extraordinário, além, é claro, da habilidade maternal associada a um rendimento extra que é a produção de leite. Então, não vejo o cruzamento industrial na raça Gir como falta de paciência, talento ou competência para fazer Melhoramento Genético em raça pura, e sim, uma opção num empreendimento. Infelizmente, no Brasil, todo criador de Gir, em específico, entende que o negócio é produzir genética. Sim, genética, porque o leite vem do mestiço com exceções de raríssimos currais. Ora, se todos trilharem por esse caminho, a produção de genética, o que pensar sobre a demanda? Trabalhar eternamente para a produção de animais melhoradores? E os animais melhorados, fazer o quê com eles? Traduzir a raça, no caso da Gir, em simples produção de lactações em Controles e Concursos leiteiros não é inteligente. Porque na visão do produtor de leite o mestiço ainda é a opção mais lucrativa. O romantismo alegra o coração e massageia o ego, mas todo negócio necessita de sustentabilidade a si mesmo e àquele que nele investe. Trata-se da pedra angular de qualquer empreendimento.

Luiz Humberto Carrião
www.blogdogir.blogspot.com
Ilustração: matriz GIR crioula do rebanho LHC (Luiz Humberto Carrião)      

domingo, 24 de junho de 2012

Gir é leite, nada mais! Será?


Acompanhei aqui (facebook) comentários sobre a queda dos preços de animais da raça GIR na bolsa, notadamente, aquela referenciada pelos leilões. Não podemos esquecer que o mercado é regido por sua lei específica – oferta e procura – cuja relação determina o valor do produto. A equação é simples: se a oferta é menor do que a procura, a tendência dos preços é de alta, e, em contrário, oferta maior que a procura, tendência de baixa. Uma pergunta poderia responder o que está ocorrendo nesse mercado: existe um touro chamado C.A. Sansão que há anos ocupa a liderança no ranking de animais da raça GIR provados no Teste de Progênie executado pela EMBRAPA – gado de leite – em parceria com a ABCGIL e Sumário da ABCZ/UNESP levando-o a ser considerado um fenômeno na raça. Pois bem, qual o criador brasileiro que não possui filhas desse touro? Somente aqueles que não as desejaram. O mesmo pode-se afirmar em relação a outros animais. A inseminação artificial possibilitou isso. Mas essa, não pode ser considerada, em absoluto, a única justificativa para o desaquecimento do mercado. Outra questão levada a efeito foi a opção de funcionalidade única dada a raça, o leite, ignorando outras possibilidades como os cruzamentos industriais. Isso impediu a criação de um rebanho brasileiro de produção para atender a demanda dos criatórios que optaram por investir em genética. Gir é leite, nada mais! Elegeram um mito para o marketing: altas lactações individuais, como se elas traduzissem realidades dos currais. Um erro imperdoável! Atualmente, criadores da raça Nelore, na condição de integrados, estão trabalhando cruzamento industrial com a raça europeia Aberdeen Angus ou Red Angus com um ganho em torno de 30% a mais que os bezerros convencionais na desmama. Um bezerro nelore na desmama está sendo comercializado hoje, 24, a 650 reais. Façam o cálculo do preço alcançado pelo produto oriundo do cruzamento industrial? Fora da condição de integrado, obtém um abate aos 18 meses com 16 arrobas para machos e 14 para fêmeas, terminados em confinamento. As fêmeas resultante desse cruzamento (½ sangue nelore x angus) se retida no rebanho para a produção do 'tricross bovino' com a raça Wagyu (japonesa), ao produto desmamado impõe-se um ganho de 50% aos bezerros nelore x nelore. O que dizer da raça GIR possuidora do posterior mais avantajado de todos os zebuínos; de mais fina e leve ossatura propiciando maior rendimento de carcaça? Agora vamos fazer o cálculo em cima de 80 vacas GIR em cruzamento industrial agregando a este 4 litros de leite/dia. 80 x 4 = 320 x 0.80 R$ = 256.00R$ x 30 dias = 7.680 R$. Qual o custo com uma vaca GIR para a produção diária de 4 litros de leite? Façam agora a conta do rendimento obtido com a venda dos bezerros desmamados acrescida do rendimento obtido pela venda do leite? Coloquem de um lado as despesas e de outro a receita para uma relação de análise custo/benefício. Quantos alqueires são necessários para a criação de 80 vacas GIR paridas? Por outro lado, muitos foram os rebanhos 'gir leiteiro' que disponibilizaram 95% para a produção de mestiço ½ sangue com a raça holandesa ficando somente 5% para a reposição GIR. Todos sabem que a renovação num rebanho mestiço leiteiro ocorre após a 6ª lactação/indivíduo, propiciando uma demanda extraordinária ao produtor desse mestiço ½ sangue. Não falo aqui na produção de receptoras zebuínas pela pequena população de fêmeas GIR sendo mais fácil a utilização do touro zebuíno de aptidão leiteira em vacada nelore. Muitas campanhas se exaurem e com elas os produtos quando o consumidor toma consciência de que ela não traduz o resultado anunciado. Isso, foi o que aconteceu com a raça GIR, quando lhe impuseram uma diferenciação exclusiva ao afirmarem ser uma raça zebuína de funcionalidade única, produção de leite.

Luiz Humberto Carrião  

domingo, 13 de maio de 2012

GIR, o equívoco da Fênix




Certa feita um professor de marketing apresentou a disciplina com a seguinte frase: ‘o primeiro negócio de qualquer negócio é continuar no negócio. Para tanto, é preciso gerar e manter consumidores’. Existe um equívoco entre o papel exercido pelo marketing e aquele exercido pela publicidade e propaganda que também se diferenciam. A propaganda dissemina idéias, informações e conhecimentos através da publicidade (ato de tornar público) e o marketing é o negócio visto sob o ponto de vista do cliente; é compreender o consumidor para que o produto se venda sozinho.

Anais do Simpósio Especial Sobre a Raça Gir, 1989, Mário Luiz Martinez (CNPGL): ‘Peço licença para explicar o Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro [...] Esse é o teste para descobrir animais melhoradores [...] Já tentamos introduzir o programa na ABCZ, em 1976, mas não conseguimos. Em 1983, a ABCGIL aprovou a idéia’.

“Esse é o teste para descobrir animais melhoradores’, estava aí o referencial para gerar e manter consumidores de uma pecuária de elite na raça GIR, indistintamente, uma vez que foi tentada sua introdução na ABCZ, associação delegada pelo Ministério para o registro genealógico das raças zebuínas, dentre elas, a GIR, em 1976, sem sucesso. “Em 1983, a ABCGIL aprovou a ideia”. Trata-se de história tomando como fonte um documento oficial de uma associação promotora da raça, ASSOGIR. O PNMGL é a ferramenta para garantir a continuidade no negócio GIR. Garantia de um processo continuado.

O posicionamento exclusivo e diferenciado dado à raça através de uma funcionalidade exclusiva, o leite, sedimentou na expressão GIR LEITEIRO uma ‘marca de confiança’. Gerou uma relação de cumplicidade com seus consumidores tomando como ponto de partida a propaganda disseminada de lactações, valor genético e PTA (capacidade prevista de transmissão) de seus animais.

O impacto desse marketing, publicidade e propaganda sobre a raça teve um ‘efeito fênix’ - a fez renascer das próprias cinzas –. Muito mais pelos resultados econômicos alcançados, do que por opção de criação em si mesma. Isto fez com que muitos redirecionassem seus trabalhos, novos criadores aparecessem, e por último os investidores. Estes, muito mais preocupados com a rentabilidade do negócio enquanto aplicação do que atividade de produção. Os compêndios de Economia ensinam que: ‘o preço das coisas varia na razão direta da procura e na razão inversa da oferta. Quanto mais desejado for um bem – procurado – e quanto menos existir no comércio, tanto mais seu preço aumentará e vice-versa’. Com a democratização de animais melhoradores multiplicaram-se os produtores de genética no país, e com eles, a oferta de animais melhorados provocou a necessidade de repaginar marketing, publicidade e propaganda. Foi aí, que apareceram as ‘altas lactações’ como referencial de informação na propaganda do ‘gir leiteiro’. Sobre elas assevera Ivan Ledic: ‘alguns produzem leite, outros produzem lactações’.

A realidade produzida é que animais melhorados estão na vitrine do mercado como melhoradores; lactações produzidas como produção. Eis a questão!

Luiz Humberto Carrião

sábado, 12 de maio de 2012

GIR, marca ou raça?


Tenho preferências ao zebuíno de chifres. É o diferencial. E, por conseguinte, não o vejo como um detalhe apenas. Faz parte do todo. Aqueles que assim pensam, exige desse item uma estética a acompanhar sua preferência dentro do padrão racial. Um adendo para dizer que essa diversidade propiciada pelo GIR é que o torna tão interessante, apaixonante e polêmico. Vou mais longe! É uma raça que vai além da simples orientação funcional trazendo, em concomitância, a alma artística daquele que o cria. Que diferença faz se a perfeição é buscada (anatomicamente) na cabeça ou no úbere? Ou não existe preocupação daqueles que o exploram na funcionalidade leiteira com beleza, anatomia e funcionalidade do úbere? O importante é que ‘nenhum trabalho vale pelo resultado que produz, mas pela disposição de espontânea alegria e amor com que é feito’ [royalties a Huberto Rohden]. O resultado do trabalho, sob a ótica financeira, é uma conseqüência de si mesmo.

Por outro lado, vejo a produção do mestiço ½ sangue (gir x holandês) oriundo de uma matriz gir mocha mais prazerosa e produtiva. Por isso devo ter meu trabalho condenado? Mas condenado por quem? Com qual autoridade? Na produção dessa matriz gir mocha posso utilizar-me de touros PROVADOS cuja anatomia de cabeça não me agrada. A raça me dá essa opção. Não posso admitir que a carga genética de um animal seja levada a efeito pelos chifres. A questão de não utilizar determinados touros cuja cabeça não me agrada é uma questão de estética. Pura e simplesmente!

Outro detalhe que me tem chamado a atenção é a produção de carne em referência a Cota Hilton, que deve seu nome à cadeia de Hotéis homônima. É constituída de cortes especiais do quarto traseiro de ‘novilhos precoce’ (expressão usada para definir o animal abatido mais jovem com três a quatro dentes definitivos, 30 a 36 meses) alcançando internacionalmente de 3 a 4 vezes o preço da carne comum. Esclarecimento: o Brasil não se encontra entre os credenciados à produção: Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Estados Unidos, Canadá e Uruguai. Mas a qualidade desse corte serve de referência a qualquer outro país. O cruzamento da raça Nelore x Red Angus tem alcançado um abate em torno de 18 a 20 meses, com 18 @, através do uso de creeping feeding durante o período do aleitamento materno e pasto suplementado pós-desmama. O que dizer com relação ao cruzamento Gir x Red Angus levando-se em consideração a habilidade maternal da vaca GIR e a produção de carnes nobres (posterior)? Boiadas estão sendo abatidas hoje nos frigoríficos em torno de 16 @ arrobas para machos e 14 para fêmeas, peso este que será alcançado (estimativa) por este cruzamento aos 18 meses. É só fazer a conta tomando como referência 100 matrizes GIR distribuídas em duas estações de monta em grupo de 50 cada e projetar o resultado final.

O que existe são mitos de interesses de poucos em detrimento de um todo. Desmitificar, essa é a palavra de ordem. Criadores de mito não os perdem facilmente, e nem podem. ‘Um produto pode vender devido ao apelo lógico que exerce sobre a nossa mente consciente, mas uma marca – ao contrário de um produto individual – forma-se emocionalmente com o passar do tempo e entra no nosso inconsciente numa maré de emoções e não por meios lógicos... ’ [royalties a William Backer]. Não podemos esquecer que ‘gir leiteiro’ é uma marca. Uma realidade produzida. Sobre marca (realidade produzida) Sal Randazzo afirma: ‘Dentro desse espaço perceptual da marca podemos criar sedutores mundos e personagens míticos que, graças à publicidade, ficam associados ao produto’. No que foi dada a funcionalidade específica leiteira a GIR, criando a expressão ‘gir leiteiro’, nada mais fizeram do que projetar uma marca no mercado, cuja sustentabilidade tem sido levada a efeito através de ‘altas lactações’ e um biótipo a diferenciá-lo do até então existe, que de certa forma está sendo desmontado pela Ciência e lactações aferidas em matrizes padrão utilizando-se das mesmas ferramentas. Apesar da extraordinária aceitação pelo mercado, a marca ‘gir leiteiro’, ao que parece, por falta de outros mitos de sustentação vai se exaurindo. Aos poucos a GIR vai deixando de ser uma marca para voltar à condição de raça.

Luiz Humberto Carrião          

domingo, 29 de abril de 2012

Gir, uma releitura necessária

Fábulas são pequenas histórias ilustrativas que trazem na conclusão uma reflexão. Existe uma de Esopo muito interessante, a galinha dos ovos de ouro. Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua galinha tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o a mulher dizendo: _Veja! Estamos ricos! Levou o ovo ao mercado e o vendeu por um bom preço. Na manhã seguinte a galinha pôs outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço. E assim se sucedeu por vários dias levando o fazendeiro a uma indagação: 'se esta galinha põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!" Matou a galinha, que por dentro era igual a qualquer outra. Moral: quem tudo quer tudo perde. O zebu foi trazido de seu berço, a Índia, pela adaptabilidade extraordinária ao solo brasileiro, onde, com o passar dos anos a raça Nelore se estruturou como a grande produtora de carne levando o país a um dos maiores produtores desse tipo de proteína no mundo e, a Gir em igual estrutura na produção de leite. O sangue Gir, direta ou indiretamente (cruzamentos), encontra-se presente em mais de 80% dos currais leiteiros do país. É um dado estatístico de muita significância que não deixa qualquer dúvida sobre sua importância na pecuária brasileira. Em ambas um dicotomia: de um lado criadores que investem em genética e, de outro, os que aproveitam dessa genética para melhorar o desempenho produtivo e reprodutivo de seus rebanhos. Na raça nelore o que se chamou de avanço técnico/científico ao que parece não surtiu o efeito desejado junto aos rebanhos de produção, uma releitura se fez necessária; na Gir, ainda relutam a essa releitura.     

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Gir, uma reflexão

Qualquer criador de gir, principalmente aquele que frequentou a EXPOZEBU tempos atrás, afirmar que não é prazeroso ver essa quantidade significativa de animas no maior evento de zebu do mundo, não está sendo sincero nem com ele mesmo. Agora, daí imaginar que a raça gir alcançou um crescimento extraordinário a ponto de ocupar uma liderança que até então foi da raça nelore é outra. Como era triste chegar em Uberaba e ver somente dois pavilhões abrigando a raça gir, e às vezes, um deles completado com outra raça zebuína de menor densidade populacional no Brasil. Não que o gir não devesse compartilhar um pavilhão com raças co-irmãs. Nada disso! Mas pela importância que ela teve na estruturação do zebu neste país, em dado momento servir de chacota aos criadores de outras raças, era ruim. Quantas vezes cheguei a ouvir que o problema do gir não era com a ABCZ, e sim com o IBAMA. Sei que se tratava de brincadeira, mas quando se gosta de uma raça, acredita nela é péssimo ouvir isso. A raça nelore continua a mesma, com pujança de sempre. O que mudou foi o foco sobre a pecuária de elite. A ação dos selecionadores para pista de Uberaba não estava conseguindo mais reação junto ao mercado. Os pecuaristas comerciais que procuravam animais melhoradores no desempenho produtivo de seu plantel entendeu o que estava acontecendo; por outro lado, investidores gostam é de dinheiro, estão pouco preocupados com esse negócio de padrão racial, pureza de origem etc. Eles também se aperceberam que o negócio era bem diferente. E começou por eles, a saga de liquidação de plantéis da raça nelore. Mas o liquidado foi o nelore da moda, aquele que alcançava peso através de alimentação balanceada e muita das vezes até acompanhado por um personal trainer, o nelore de pista. Enxergaram que o sucesso da pecuária de elite está em sua aceitação na pecuária comercial. O melhor cliente da pecuária de elite não é aquele que compra um animal caríssimo para logo em seguida tornar-se concorrente da mesma, é sim, o pecuarista comercial, que a cada 5 anos se vê na obrigação de renovar seus reprodutores. E quantos reprodutores novos essa pecuária comercial necessita por ano? Alguém já pesquisou esses dados? A pecuária comercial se reproduz utilizando de touros, porém, através de indivíduos que tragam resposta ao investimento. Outro problema na pecuária de elite da raça nelore, me confidenciada por um amigo que a praticava era o alto custo de preparação de um animal para a pista de Uberaba. Chegou a falar que num manejo adequado o gasto era de 200 reais por dia/animal, e quando o mesmo era vendido, ou contratado por um Central de Coleta e Comercialização de Sêmen não trazia o retorno necessário. Na verdade faço a leitura de que o que houve foi uma consciência da necessidade de dar um passo atrás, para uma reordenação e em seguida continuar a caminhada. E essa pessoa me dizia: "Carrião, cuidado! O gir está indo pelo mesmo caminho". E está! Os preços alcançados nos últimos leilões, a dificuldade em vender animais nos currais já é um sintoma claro de que o repensar da raça é uma necessidade premente. Vários são os indicativos para isso. Aonde estão os criadores de nelore que estavam investindo no gir? O mesmo pode-se perguntar sobre os investidores urbanos, aonde estão? O marketing levado a efeito sobre as 'altas lactações' na raça deixou de ser a grande atração do mercado; as vacas 'gpadrão' filhas de touros não provados e de mães não lactadas assim que colocadas em manejo em igualdade com as 'gleiteiro' deram resposta semelhante, o que de certa forma criou uma expectativa sobre o resultado da 1ª bateria do Teste de Progênie da GirGoiás; grande parte das matrizes gir adquiridas nos leilões encontram-se atualmente produzindo 1/2 sangue com a raça holandesa; os preços, apesar da euforia, vão acomodando para o desespero de muitos; o aperto com relação a exigência do padrão racial pela ABCZ tem levado a refugo uma quantidade significativa de animais adquiridos a preços bem acima da realidade de marcado. Não quero dizer com isso que com a volta da nelore às pista a gir irá voltar ao patamar de antanho, não! Ela sempre teve seu espaço na pecuária brasileira, o que precisa ao meu ver é defini-lo, encontrá-lo e ocupá-lo. Mas isso de maneira racional. Infelizmente, o óbvio é a verdade mais difícil de ser enxergada, mesmo diante de uma visibilidade explícita.

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 20 de abril de 2012

CONCURSOS LEITEIROS, uma proposta de avaliação

Muito boa e consistente a proposta de Roberto Ximenes Bolsanello sobre critérios a serem usados em Torneiros Leiteiros. Melhor ainda a disposição do conselheiro José Otávio Lemos em apresentá-la ao Conselho Técnico da ABCZ. Gostaria de propor que houvesse uma ampla discussão no facebook, pelo alcance e facilidade de acesso, mediada pelo José Otávio Lemos (razão óbvia de ser o estafeta da proposta junto à entidade ABCZ) no sentido de fortalecê-la, e mesmo, ampliá-la se necessário. Seria de bom alvitre (no sentido de sugerir) que fosse aberto um grupo específico para essa discussão. Cheguei a discuti-la com o seu autor na madrugada em que foi lançada do facebook, por isso, tomo a liberdade de expor o que entendi, deixando desde já, aberto ao autor, o direito de intervenção nos casos em que meu entendimento não esteja em coerência com o proposto. Nos países desenvolvidos NÃO se paga o leite em litros (quantidade) e SIM em quilos (qualidade) levando em consideração a presença dos sólidos. Estes sim, é que são importantes para a indústria Láctea, não a água. Vacas de 'altíssimas lactações' tem um percentual de sólidos muito baixo, pois estes, acabam se diluindo na água presente no leite, equiparando ao rendimento de uma vaca que produz menos e de forma mais natural. E aí a pergunta: por que não discutir as aferições em Controles e Concursos Leiteiros em QUILOS, tomando como referência os sólidos? Vaca 'A' produziu no controle leiteiro tantos litros, mas com tantos % de sólidos, então, o resultado seria em Kg de sólidos, e não, em kg de leite. Esse tipo de avaliação, inclusive, causaria maior expectativa entre os competidores, uma vez que, nem sempre, a vaca que produzisse maior quantidade de leite seria, necessariamente, a campeã; e sim, a que produzisse mais leite com maior quantidade de sólidos. Exemplo prático para Controle ou Concurso leiteiro: uma vaca produziu no final do concurso 138,85 kg de leite com 11,7% de sólidos; outra, produziu 132,97 com 12,5% de sólidos; e, uma terceira, 135,42 kg de leite com 12,3% de sólidos. O resultado seria 16,24 kg de sólidos, 16,62 kg de sólidos e 16,65 kg de sólidos, respectivamente. A campeã, seria a vaca que tivesse produzido a maior quantidade de sólidos. Neste caso hipotético, a terceira. Porque isso? Para a indústria o que interessa é a qualidade do leite aferida pelo volume dos sólidos, e não pela quantidade de leite aferida pelo volume de água. Seria uma evolução que premiaria vacas que produzissem maior quantidade e qualidade de leite, e não, em absoluto, quantidade. Sabemos que 10 litros de leite lactados através de aditivos, são 'menores' que a mesma quantidade lactada  convencionalmente. Trocando em miúdos: 10 litros de leite de uma lactação 'induzida' terão menos sólidos que os 10 litros de uma lactação 'convencional' (não induzida). Na certificação, atestar que tal animal produziu 840 kg de sólidos em 7000 kg de leite, com 12% de sólidos, em 305 dias. Seria uma revolução nas raças zebuínas de aptidão leiteira em relação as raças europeias criadas no Brasil e a abertura de uma discussão sobre o pagamento do leite ao produtor tomando como referencia a qualidade desse leite.

Luiz Humberto Carrião

C.A EVEREST, o mito


Os instrumentos da teoria semiótica permitem entender melhor o emprego múltiplo do termo imagem numa campanha de marketing. Ora se parece com a visão natural, ora se constrói de um paralelismo qualificativo. É através da imagem que se associa o consumidor ao produto numa observância de fidelidade”

Escrever não tem meio termo, é fácil ou impossível (royalties ao cineasta goiano João Bênio). Mas é preciso ao menos tentar. Tão difícil como escrever é entender o que foi escrito. A linguagem escrita de alcance universal, mesmo que através de idiomas e dialetos diferenciados é que possibilita ao homem, mesmo consciente de que a diferença entre ele e um mono é de menos de 2% em suas programações genéticas, sobrepor a este e a todo reino animal. Isto de certa forma, abriu um fosso aparentemente intransponível entre o homem e o “animal”, embora estejamos classificados taxionomicamente no mesmo reino. Como assevera Jared Diamond, “dentre nossas características únicas está o fato de falarmos, escrevermos e construirmos máquinas complexas”, aliás, máquinas, que se tivessem a capacidade de se auto programar provavelmente não estaria aqui escrevendo esse texto. Pois bem! Uma das mais fantásticas criações humanas utilizando-se do escrever, ler e entender foi a propaganda, no sentido de propagar um determinado produto através da publicidade, no sentido de tornar publico o que se deseja propagar. E neste contexto, imagem e linguagem se integram num só corpo, numa só alma. Tanto a imagem pode ilustrar um texto verbal, como este pode esclarecer uma imagem. Numa campanha de mídia, o primeiro passo é a criação do MITO. Este é que irá habitar o inconsciente coletivo na ação publicitária. Esse mito, tem necessariamente que ser preservado para que haja efeito positivo e duradouro numa campanha.  Um dos gargalos em campanhas de mídia está relacionado a substituição desses MITOS. A raça gir, importada da Índia para o Brasil, não veio de maneira aleatória. Houve por parte dos pioneiros dessa importação todo um estudo comparativo entre a realidade física estrutural do berço do zebu com a aqui existente. E não é só isso, a busca por raças que tivessem adequada adaptabilidade à realidade brasileira se tornou necessária pela dificuldade em aqui serem reproduzidas, com eficácia e eficiência, as raças europeias de onde partiu todo o nosso processo colonizatório. A literatura mostra a estreita ligação da raça gir com a palavra Zebu. Por longos anos o zebu, leia-se germoplasma gir, predominou sobre o rebanho pecuário brasileiro até o advento de explosão da raça nelore para a produção de carne, e do mestiço, para a produção de leite. Os fatores que determinaram esse novo status quo na pecuária brasileira são sobejamente conhecidos, não carece aqui detalhamentos. A partir de então, aqueles que não migraram para a atividade frigorífica com a raça nelore, ou que, em muitos casos passaram para a atividade agrícola, mantiveram seus planteis gir em sua 'pureza racial de origem', ou passaram a utilizar-se da raça para produzir o mestiço através do sucesso leiteiro alcançado pelo 'vigor hibrido' que esse cruzamento propicia em cruzamentos com raças leiteiras especializadas europeias. Nunca acreditei na escuridão, e sim na ausência de luz. E uma vela foi acesa novamente à raça no Brasil, só que agora, através de uma especificidade mais explicita em sua funcionalidade, a produção de leite. Não vejo também aqui, a necessidade de discussão a respeito se deve ou não agregar o fator carne nesta funcionalidade. Tal qual os pioneiros nas importações, esses criadores que identificaram a gir, como a raça zebuína propícia a produção de leite, também tiveram suas odisseias. E foi em de um desses planteis que acreditaram na raça como excelência láctea, que nasceu o mito C.A. Everest, responsável pela implantação no inconsciente coletivo das pessoas que a raça gir, ao contrário do que se imaginava, é produtora de leite sim! E dentro de uma relação custo benefício, viável sim! Querendo uns e não querendo outros. E neste sentido, a imagem do touro C.A. Everest integra um só corpo, uma só alma, quando se fala em raça gir como produtora de leite no Brasil e nos países tropicais. Apesar de seu filho, C.A. Sansão havê-lo superado comercialmente, quando se fala em C.A. Sansão a imagem referência e a do pai, C.A. Everest, O MITO. Mito que ainda dá sustentabilidade a campanha de marketing a uma das raças zebuínas produtoras de leite por excelência. Quando da manifestação sobre a divulgação em rede social de alcance mundial da foto desse MITO ao final de sua vida, foi mais no sentido de preservar o que foi construído através DELE ao longo da história do gir no Brasil como MITO. Nada mais além disso! UMA QUESTÃO MUITO MAIS CIENTÍFICA DO QUE DE SENSO COMUM.

Luiz Humberto Carrião  

terça-feira, 17 de abril de 2012

Sobre a oficialização do uso de BSTs

Um assunto que antes era tabu, do dia para a noite virou debate nas redes sociais. E para o desespero de muitos, as posições assumidas pelos debatedores não tem sido de agrado de seus usuários, nem tão pouco do órgão responsável pela fiscalização que oficializou seu uso em Controles e Torneios Leiteiros.


Tem sido crescente nos grupos dedicados à raça Gir no facebook o interesse em abordar as "altas lactações" conseguidas através do uso de hormônios. Apesar de ainda haver os que defendem  tais procedimentos, o silêncio por parte daqueles que o utiliza é total. Alguns dados estatísticos interessantes apareceram, como por exemplo, de que o "manejo correto" pode acrescer em até 100% na lactação de um animal lactado de maneira convencional. Quando se imaginava o uso dessa referência como base de cálculo para estimar a lactação natural, sem uso de aditivos, diante da oficialização de seu uso em Controles Leiteiros, Torneios Leiteiros e Provas de Produção de Leite, o que se viu foi uma proposta em sentido contrário: a utilização da  referência como ajuste às pesagens em condições normais, ou seja, sem o uso de "bombas" (hormônios que aceleram o metabolismo paralelamente a uma série de medicamentos para tentar evitar a morte do animal durante sua aplicação). Com isso, estimaria-se a capacidade mecânica de produção de um animal sem submetê-lo a esse processo cruel onde a possibilidade de óbito está sempre presente. Porém, existem aqueles que defendem que o uso de "bombas" não obtém respostas em todos os animais a elas submetidos, e mais, que ao seu uso, se faz necessário uma dieta alimentar adequada ao procedimento, o que de certa forma o possibilita a poucos, dado o seu custo operacional. Mais uma justificativa positiva em favor dos que apregoam a utilização do ajuste em lactações convencionais. Uma maneira de democratizar a participação em Torneios ou em Controle Leiteiro. Quando se levanta dificuldade para na utilização desse ajuste, de imediato, a proposta para que seja analisado laboratorialmente esse leite medido em seus Sólidos Totais (ST) ou Estrato Seco Total (EST). Profissionais da área são unânimes em afirmar estar aí o fim do uso de BST (hormônio) e em efeito cascata o de medicamentos como soro de diálise, por exemplo. Existe depoimentos estarrecedores: "Eu já vi leite verde claro saindo dos tetos de uma vaca em concurso leiteiro. Acredite! Fiquei espantado." Outro: "...uma vez, numa grande exposição vi uns preparadores estrangeiros metendo tudo o que pensar (e o impensável - arame) no úbere de uma vaca ***** para ganhar o título... e ganhou... perguntei ao dono sobre o úbere da vaca, sabe a resposta? Ela pode nunca mais dar leite, mas te garanto que vou vender muito embrião...". Se Maomé não for a Montanha, com certeza, a Montanha irá a Maomé. Ou o órgão responsável pela homologação de Torneios e Controles Leiteiros tomam uma providência a respeito, ou ela será tomada pela Sociedade Protetora dos Animais em ação junto ao Ministério Publico Federal, a exemplo do que foi feito em relação às Festas de Rodeios.

Luiz Humberto Carrião

domingo, 15 de abril de 2012

Fotos dos touros da 7ª bateria do TP Girgoiás











Gir Mocho



Variedade ou raça?


Octávio Domingues, afirma que na história de diversas raças, vemos sempre o cruzamento como origem. Raras são as raças inicialmente puras. A maioria resultou de um trabalho inteligente de seleção procedido numa mesma população inicialmente mestiça, muita das vezes até de origem obscura, se não ignorada. Misturar sangue é, algumas vezes, dar origem a novas formas, talvez melhor sob determinados pontos de vista. As raças chamadas mistas, ou de utilidade, provieram, na sua quase totalidade de um trabalho desses. 

Em "A naturalização do Zebu", de dezembro de 1938, Domingues nos diz que só podemos falar seguramente em raça "quando os reprodutores, para multiplicação del, forem tirados da própria população étnica em seleção; quando nenhum reprodutor de outra raça for convidado a intervir com seu sangue no melhoramento que se deseja; quando sua descendência oferecer um grau de uniformidade visível, patente, por duas gerações seguidas, no mínimo", o que não acontece em absoluto com o mocho, onde o próprio Serviço de Registro Genealógico dá a permissividade para a utilização do padrão (chifres) na seleção.


Já a sub-raça ou variedade, isto é, uma subdivisão da raça, continua Domingues, "é um conjunto de animais que variam sem saírem dentro da raça, mas com caracteres que as distingue da massa da população étnica primitiva". Em comparação com o padrão, além da ausência de chifres, a localização do olho não é perpendicular à linha do perfil quando se traça uma linha tocando a inserção posterior e a fronto superior como mostra o livro Fundamentos Raciais do Gado Gir (1989), de autoria de Rinaldo dos Santos, Editora Agropecuária Tropical; arcada orbitária é mais saliente, e, na parte inferior, normalmente apresenta uma depressão; na orelha, a dobra central é mais baixa e não apresenta "gavião" refinado, sendo mais espalmada ou aberta, mais dura ao tato e com tendência de ser mais provida de pelos; a marrava é mais alta e com o nimburi evidente na maioria dos indivíduos; a cabeça mais curta; o chanfro normalmente mais cortante, principalmente nas fêmeas;menos convexa e o corpo tende a características de um gado enquadrado como retilíneo, o que de certa forma, melhor lhe identifica dentro da categoria mais como uma variedade da raça do que uma raça propriamente dita.

Berbault em Dur la nomeclarture dês plantes cultivées explica que a variedade contém um duplo elemento: um morfológico, como a estrutura exterior e outro hereditário. Enquanto o segundo não for verificado, experimentalmente comprovado, há simplesmente "forma", que pode ser definida "como sendo um conjunto de indivíduos recém-originários de um cruzamento ou de uma aclimatação, cuja herança é ainda uma incógnita. Trata-se de um termo que não podemos enquadrar como sendo uma raça ou variedade".


Com a predominância do fator mocho sobre o padrão (chifres), sendo este uma verificação tácita, o mocho nacional deixa de ser enquadrado na taxionomia como forma, para integrar a categoria de variedade. [...]



Luiz Humberto Carrião, Revista Gir & seus cruzamentos, Ano I, número 6, Agosto/setembro de 2003, republicado no Almanaque Gir brasileiro, edição 04, novembro/dezembro de 2006.

Ilustração: Sacristia da Cal (rebanho LHC)

sábado, 7 de abril de 2012

Resultado do TP GIRGOIÁS será durante a MEGALEITE

O resultado do Teste de Progênie da Associação Goiana dos Criadores de Gir - mais conhecida como GirGoiás - será durante a MEGALEITE, exposição realizada pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, no Parque Fernando Costa na cidade de Uberaba, Minas Gerais, e não durante a 67ª Exposição Agropecuária do Estado de Goiás e 27ª Internacional de Animais ou mesmo na EXPOZEBU/2012. A discussão se arrastava a meses, onde uns achavam que a Pecuária de Maio, como é conhecida a mostra de animais em Goiânia não daria a visibilidade necessária ao evento. Outros, optavam pela EXPOZEBU/2012 exatamente atender esse quesito, mesmo com o lançamento do TP ABCGIL, mas a MEGALEITE/2012 foi um surpresa. De um criador que possui vários touros no teste: "Eu sabia que vaidades e interesses maiores impediriam a nós goianos o lançamento do resultado na terra em que ele foi idealizado e sustentado por Fazendas Colaboradoras".   

quinta-feira, 5 de abril de 2012


Cuidado com essa tentativa de legalizar ações terroristas no Brasil através de movimentos sociais ou reivindicatórios



Coisas que só acontecem no Brasil. Imaginem! A comissão de juristas que discute uma proposta para um novo código penal sugere a inclusão no texto do anti-projeto o crime de terrorismo, bem como a revogação da Lei de Segurança Nacional, 1983, que atualmente enquadra crimes relacionados a praticas terroristas. De acordo com a proposta da comissão será enquadrado como terrorismo, "causa de terror na população a partir de condutas como: sequestrar ou manter alguém em cárcere privado; usar, portar ou trazer consigo explosivos; gases tóxicos; venenos; conteúdos biológicos, ou, outros meios capazes de causar danos". Também enquadram como crime de terrorismo, "sabotar o funcionamento ou apoderar-se do controle de comunicação ou transporte, de portos, aeroportos, estações rodoviárias e ferroviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios, instalações públicas ou locais onde funcionam serviços públicos essenciais, inclusive instalações militares". Até aí tudo bem, porém, vamos ao absurdo dos absurdos: "a comissão decidiu preservar os movimentos sociais e reivindicatórios, determinando que não haja crime de terrorismo no caso de conduta de pessoas movidas por propósitos sociais e reivindicatórios, desde que os objetivos e meios sejam compatíveis e adequados a sua finalidade". A proposta em formato de antiprojeto deverá ser encaminhada em um texto final ao presidente do senado, José Sarney, até o final do mês de maio de 2012, que dará uma decisão final: gaveta ou transformá-la em projeto de lei. Em sendo transformada em projeto de lei,  aprovado pelas duas câmaras, sancionado pela presidente da república, significa que, movimentos sociais como MST (Movimento dos Sem Terras) e suas dissidências estarão excetuados em suas ações terroristas, como aquela ocorrida na cidade triangulina de Santa Vitória, onde em nome da reivindicação à reforma agrária invadiram o prédio da prefeitura municipal, arriaram a bandeira nacional, em seu lugar hastearam a bandeira do movimento; transformaram lavatórios em mictórios e documentos em papel higiênico. Ou então, nas invasões no Pontal do Paranapanema, estado de São Paulo onde chegaram ao máximo. Não se contentando em abater animais de elite na Fazenda Santa Cecília, passaram a jogar gasolina nos animais e colocar fogo. Existem vídeos com essas imagens. É só procurar os sindicatos rurais da região para essas comprovações. Diante dos recentes escândalos políticos onde ícones do senado, câmara dos deputados, assembleias legislativas, câmaras municipais, dirigentes de partidos políticos, membros do executivo e judiciário, levam a sociedade a uma indignação, assistindo a tudo bestializada, embora consciente de que algo precisa ser feito para passar a limpo o país, há que se ter muita responsabilidade com uma proposta dessas. Mesmo que em forma de sugestão em um antiprojeto. Isto porque, com a pressão externa sobre a realização da copa do mundo, 2014 e olimpíadas em 2016, pode virar lei ordinária.  Não podemos desconhecer que o episódio envolvendo o senador Demóstenes Torres reacendeu  o debate sobre o falso moralismo da direita e a falsa esperança de justiça social da esquerda; não podemos desconhecer que os movimentos sociais e reivindicatórios são identificados como de ideologia de esquerda e que, os que produzem como direitistas exploradores e "sem alma"; e muito menos esquecer da História. Lembram das "teatrais" explosões nas bancas de revistas pelas cidades brasileiras? Da frase presidencial, "Canalhas! joguem essas bombas em mim!" Sobre quem recaia a responsabilidade pelos atos terroristas? E na verdade, quem executava tais atos terroristas? Se não fosse a bomba do Rio Centro, explodida antecipadamente, saberíamos quem, na verdade, eram  os executores desses atos terroristas? Isto tudo, num período de exceção dentro de uma clandestinidade.  O Brasil, ao contrário do que apregoam alguns, não necessita de uma guerra civil para se firmar como nação. Responsabilidade senhores! Muita responsabilidade!O país vive hoje um estado de direito, onde a proposta de legalidade para ações terroristas jamais será aceita.

Luiz Humberto Carrião   

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O GIR face a face com a História (I)


Numa reunião ocorrida na sede da ASSOGIR - Associação Brasileira dos Criadores de Gir - no edifício sede da ABCZ - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - um acontecimento marcou a História da raça gir no Brasil. Quiçá, se não tivesse havido tamanha intransigência naquele momento, não teria a raça perdido tanto no tempo e no espaço. Era então presidente da ASSOGIR o empresário paulista Marco Antonio Pinseta, que havia adquirido o que sobrara do plantel JZ (José Zacarias Junqueira) e, somado a outros como a marca SJ (doutor Ene Sab), ZS (Zeide Sab), AG (Aderbal Góes) havia começado por onde outros com anos de estrada não haviam conseguido chegar. Pinseta para homenagear os patronais do gir, idealizou o que ficou conhecido como Conselho Superior da Raça. Um dia chegou a me confessar que a ideia inicial era para funcionar como uma espécie de Academia Brasileira de Letras, no sentido de reunir os giristas tradicionais, e, em contra partida, funcionar como um órgão consultivo junto à diretoria executiva. Porém, o que ele nunca imaginou era que aos invés de consultivo, dado ao prestígio de alguns de seus membros, esse Conselho acabaria se transformando em um órgão deliberativo, onde o presidente da associação passou a ser uma rainha da Inglaterra. Nessa época a ASSOGIR tinha por tradição duas cadeiras na mesa diretora da ABCZ, a segunda vice-presidência que esteve vitalícia ao doutor Vicente Araújo de Souza Junior, e outra, de diretor ocupada por indicação da diretoria. Pinseta, na condição de presidente, foi guindado ao posto juntamente com Vicentinho que o havia antecedido na ASSOGIR. A essa época, a convite do presidente Pinseta, embora sócio da entidade, porém, não fazendo parte da diretoria, era convidado a participar das reuniões mensais que ocorriam na segunda terça-feira de cada mês, data esta em que era também realizada a reunião geral de diretoria da ABCZ. Numa dessas reuniões o presidente Pinseta trás para a ASSOGIR a notícia de que o Ministério da Agricultura e Abastecimento havia liberado uma verba no valor de 50 mil reais, via ABCZ, para contemplar o Melhoramento Genético na Raça Gir. Mas como existiam e ainda existem duas associações nacionais promotoras da raça, a ASSOGIR e a ABCGIL - Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro -, o presidente da ABCZ se viu numa saia justa, quando então solicitou ao seu diretor e presidente da ASSOGIR que tentasse viabilizar junto a ABCGIL uma ação conjunta para a utilização dessa verba, mesmo porque a ASSOGIR não possuía um projeto de melhoramento genético ao qual estava designado o emprenho da referida verba. Houve a princípio um contato com a ABCGIL e EMBRAPA - gado de leite - onde já era executado o Teste de Progênie em parceria com ABCGIL para uma reunião buscando um possível entendimento para que os touros de criadores associados à ASSOGIR fossem avaliados juntamente com os da ABCGIL. O saudoso pesquisador do CNPGL, Mário Luiz Martinez fez a apresentação do TP assessorado por demais pesquisadores e técnicos daquela unidade da EMBRAPA, porém logo o impasse: o primeiro de que os touros da maioria dos associados da ASSOGIR não possuíam mães com Controle Leiteiro Oficial, uma dos critérios para inscrição de um animal no teste. Mas isso, depois de algumas ponderações foi resolvido. Abriria-se uma exceção num primeiro momento, e depois de um certo tempo essa exigência seria obrigatória a todos. O segundo era a estimativa de participação de 20 touros naquela bateria, onde a ASSOGIR seria contemplada com a presença de 2 animais. "Como 2 animais se a ASSOGIR iria entrar com 50% daquela verba, além é claro, dos custos normais do teste", questionou de imediato um diretor da ASSOGIR. Martinez, como era chamado, coordenador do TP afirmou que assim que os touros da ASSOGIR atendessem os critérios de pré-seleção, poderia se chegar até ao patamar de 50%, isso era o de menos. Contudo, a posição do presidente do Conselho Superior da Raça, senhor Zeid Sab e de mais alguns de seus pares, deixava claro que um consenso jamais seria alcançado. Agora, eram dois presidentes de saia justa: o da ABCZ que teria que dividir a verba entre duas associações, e o da ASSOGIR, que sem o acordo em torno da participação da ASSOGIR no Teste de Progênie, não teria como utilizar a verba se não criasse um programa de melhoramento genético a ser executado pela entidade que presidia. Na próxima reunião de diretoria esse assunto urgia uma solução, pois, caso não fosse a verba utilizada naquele ano, seria devolvida ao  Ministério o que, de certa forma, dificultaria novas ações neste sentido junto ao órgão. A intransigência da maioria dos membros do Conselho Superior da Raça, que se alinhavam com o presidente "bateu o martelo" pela não participação no TP ABCGIL/EMBRAPA. Os ânimos se exaltaram quando o presidente do Conselho Superior não aceitou uma proposta de licença ao presidente Pinseta, para que o vice-assumisse e fosse até ao presidente da ABCZ levar o resultado da decisão. A posição do Conselho era clara: ou o presidente iria até ao presidente da ABCZ e levava a decisão da reunião, ou renunciasse, licença jamais. O presidente Pinseta levantou, dirigiu-se a uma máquina de datilografia na qual redigiu sua carta renúncia, no que foi acompanhado pelo secretário da entidade, Adauto César de Castro e do diretor técnico, pesquisador da Embrapa, Duarte Vilela. De imediato, o Conselho Superior da Raça deu posse ao vice-presidente, senhora Leda Ferreira Góes que, diante da negativa agora da ABCGIL através de uma reunião marcada para Belo Horizonte, inclusive com a participação do diretor-técnico da ABCZ, senhor Luiz Antonio Josakian, buscou com o apoio do secretário geral do Ministério, Júlio Porcáro Puga, a estruturação de um Teste de Progênie em parceria com a EMBRAPA - arroz e feijão - e a YAKULT - Central de Produção e Comercialização de Sêmen -, o PMGRG - Programa de Melhoramento Genético da Raça Gir -.

Ilustração: Lançamento do PMGRG - Programa de Melhoramento Genético da Raça Gir - Goiânia/Goiás

Luiz Humberto Carrião

domingo, 1 de abril de 2012

O que nos parece uma vaca de 6,88 quilos/leite/dia?


Ao abrir minha caixa e-mail, ontem, 1º, deparei-me com uma notícia de mais um recorde quebrado de produção em concurso leiteiro. Na categoria vaca jovem, um animal alcançou o patamar (médio) de 40,387 quilos de leite, em evento encerrado 29/03/2012. Não quero discutir aqui o que acho dessas competições, do brutal sacrifício imposto ao animal, da teratogênese praticada pelos proprietários desses animais, etc. Nada disso! E sim o que isso acaba influenciando a todos nós criadores e selecionadores, mesmo sabendo que tudo isso não passa de artificialismo. Possuo um rebanho modesto estruturado a partir de animais que tive a felicidade de adquirir dos melhores plantéis do Brasil, como exemplo, do doutor Ene Sab, Zeid Sab, José Zacarias Junqueira (através do Adauto César de Castro e Marco Antonio Pinseta) e por fim, Alberto Ferreira Motta. Nunca me passou pela cabeça ser um selecionador de sementes puras de gir para a comercialização, e sim, um criador que através de um trabalho respaldado por uma controladoria pudesse ao menos empatar. Sempre pensei que o prazer que possuo junto ao gado gir, um 0 x 0 já estaria de bom tamanho, embora tenha sempre superado esse placar de maneira positiva. Sempre tive em mente a aquisição de fêmeas em que tivéssemos uma simbiose, no sentido de entendimento entre dois indivíduos: um animal e outro hominal. Se não houver isso dificilmente fica no rebanho. Parece loucura!, mas o animal tem  essa capacidade. E o que os mais antigos chamavam de expressão. No olhar ele lhe diz tudo! Quanto aos machos sempre achei interessante trazê-los de fora, excetuando-se um ou outro animal que faça a diferença entre os seus pares. Talvez porque sempre vi no doutor Ene, no Zeid, no Edmardo e mais recentemente no Alberto Motta, selecionadores de uma capacidade extraordinária de acasalamento e de um olho de Lince nesse acasalamento. O Alberto Motta empolga muito mais com os produtos machos do que com fêmeas. Incrível isso! Mas é verdade. Produzem (ou produziam àqueles que se foram) muito satisfatoriamente. Também na adquisição de machos sempre houve a preocupação com a tal simbiose. Nunca fui de ficar escolhendo um touro para cada vaca, se tenho somente um como no passado recentemente, trabalha em todo o plantel. Se dois, faço uma divisão entre as vacas, e aí sim, uma análise de pedigree (sempre procurando o verdadeiro) e mesmo fenotípica nas fêmeas, e assim por diante. Atualmente tenho a felicidade de ter um funcionário que gosta de lidar com gado gir e é um excelente inseminador, então ando diversificando mais os acasalamentos, que sempre estarão presentes neste blog, bem como os produtos ao nascerem, e que estiverem sendo recriado dentro do rebanho. Como criador e não selecionador ou colecionador, engraçado, saíram com esse termo agora, colecionador, se ocorre demanda para os machos como reprodutores, são vendidos e com a receita adquiro animais mestiços da mesma idade para recria, engorda e abate. Caso contrario, dou a eles o mesmo destino dos mestiços. Com fêmeas que não enquadram numa característica fundamental a mim, docilidade ou mesmo secundárias como fertilidade e uma produção próxima a estabelecida na linha de corte, seguem a o caminho dos machos, recria, engorda e abate. Dois adendos: sobre a característica docilidade é porque a vejo como a mais fundamental à fêmea dirigida à funcionalidade leiteira; e quanto ao abate (fêmeas) é porque se não serve para mim como criador, evidentemente não servirá a outro. Com relação ao manejo existe também algumas observações do animal em relação ao meio. Utilizo o sistema de pastagem em de piquetes de aproximadamente 5 alqueires cada  (mombaça ou braquiária) durante as águas e, palhada de soja ou milho durante a seca, com as vacas em lactação recebendo silagem de milho (na qual se preserva as espigas) e ração específica para produção de leite na proporção de 1 x 3, isto é, um quilo de ração para cada três quilos de leite produzido. Esse manejo exige uma atenção muito grande em relação a tamanho de umbigo nos machos, e úbere e tetos nas fêmeas. E aí, o assunto chega onde desejava. Num dado momento entendi que não compensava continuar registrando os animais em função das concessões que eram estabelecidas aos rebanhos tidos como leiteiros, e a exacerbada exigência aos rebanhos reconhecidos como padrão. Assim que tive um animal extraordinário negado seu registro por um técnico da ABCZ, sob a alegação de que faltava-lhe desenvolvimento, e que, na idade adulta (foto) a realidade foi bem outra, tanto no peso como na produção de leite, pude perceber que, no caso em específico, estava-se tomando como parâmetro animais preparados para exposições, e não a realidade do animal criado a pasto. Quando resolvi voltar ao registro estabeleci uma linha de corte na produção de leite presente na convenção de 2.100 quilos em uma lactação de 305 dias, sem ajuste, para que o animal fosse considerado leiteiro. A principio parece fácil diante da equação aritmética dividindo 2.100 por 305 que será igual a 6,88 quilos em duas ordenhas. Mas não é. Esses 6,88 quilos/leite/dia é de média em 305 dias. Esse período de lactação tem uma curva: ascendência, pico de produção e descendência. E aí, quando vemos uma vaca jovem produzir 40,387 quilos/leite/dia, mesmo no pico de sua lactação, o que nos parece uma vaca de 6,88 quilos/leite/dia? Sei que neste momento, os leitores estarão dizendo: Carrião, mas aquela pesagem refere-se a um animal no seu individual e não média de rebanho como você está propondo ao seu criatório. Carrião, aquela pesagem tem toda uma estrutura de manejo por trás, o que não ocorre nas vacas que você ordenha diariamente em seu curral. São verdades insofismáveis! Porém os 40,387 quilos/leite/dia encontra-se na mídia dia a dia e acaba como paradigma à raça! Isso é muito sério quando se olha para a raça em si! Quando se olha para média de rebanho! Mais sério ainda para aquele que está iniciando na criação da raça, ou não? Por isso, sou contra a esse tipo de competição. Que me desculpem! Precisamos passar a trabalhar em cima de média de rebanho, e não em cima de animais no sentido individual, que de maneira alguma representam a média do rebanho no qual está inserido. 

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 30 de março de 2012

Os anseios e o tempo na vida de um girista


O tempo não existe: é apenas uma hipótese contingente da finitude do homem sobre a Terra, Gondin da Fonseca, na apresentação da obra de sua autoria: Camões e Miraguarda – a biografia de Camões de maior tiragem no mundo, editada pela Fulgor, 1962, São Paulo. Isto significa que, enquanto biologicamente eu não findar, tenho todo o tempo do mundo. Sempre gostei de dados estatísticos, quiçá, pela oportunidade de análise que nos proporciona. E o facebook tem propiciado a nós criadores de gir o que antanho não possuíamos para nortear um trabalho dentro da raça. Hoje, por exemplo, sabemos que uma vaca mestiça (gir x holandês) proporciona em produção 40% a mais que uma vaca gir, que para ser reconhecida como leiteira, terá que apresentar uma lactação, sem ajuste, em 305 dias, de 2.100 quilos de leite. Está aí, uma referência para o limite de corte dentro de um rebanho leiteiro. Uma vaca gir produzindo 2.100 quilos de leite em 305 dias, sua média será 6,88 quilos/dia durante a lactação, e se uma mestiça sobrepõe a esta em 40%, deverá produzir no mesmo período 2.940 quilos, à proporção de 9,63 quilos/média dia. Olhando a princípio parece uma coisa simples, de fácil alcance, mas não é. Existe nesse período de lactação uma curva de produção a ser observada, e é aí que a coisa pega. Notadamente àqueles que, como eu, tende a trabalhar com um manejo a pasto, suplementado após as duas ordenhas diárias com silagem de milho e ração apropriada para vacas em lactação à proporção de 1 x 3 (1 quilo de ração para cada 3 quilos de leite produzido). Mas é uma meta a ser perseguida. Pouco importa o % de resposta positiva dentro do rebanho a princípio, mas o melhoramento consiste nisso, além da observância de outros fatores como: ancestralidade conhecida, docilidade, fertilidade, posicionamento de úbere, tamanho de tetos, pelagem, adaptabilidade a ordenha mecânica, e outros de maior sofisticação como: teor de gordura e quantidade de sólidos. Não se faz melhoramento com o coração, mas com a razão. Por isso, o que não respondeu, necessariamente, tem e deve ser descartado. Iniciei este texto definindo o significado da palavra tempo, porque somente essa primeira etapa será de aproximadamente dois anos em referência aos animais em produção. Depois a continuidade com os que vão chegando. A conclusão que se tem sobre a profissionalização da atividade consiste em medir, medir e medir. Outro fator essencial é quanto a utilização dos touros, e nisso, concordo com o primeiro profissional que me deu assistência como criador: “o touro tem que estar dentro do seu botijão de sêmen e não no pasto com as vacas”. Aos que não agradam de animais leiteiros pelo seu exterior, ainda este mês teremos animais dentro do “padrão brasileiro” PROVADOS à disposição no mercado. Sem falar que no “leiteiro” existem animais que contemplam as exigências daquele padrão. Quanto aos produtos machos, há uma exigência nos primeiros meses de vida com relação a amamentação, e depois com a qualidade do pasto, às vezes requerendo suplementação através de silagem para que a velocidade de ganho de peso do nascimento ao abate seja satisfatória. Vendê-los a invernistas não é tão compensatório como recriá-los, engordá-los e abatê-los. Principalmente havendo um escalonamento mensal neste abate. Apresenta-se como uma receita agregada à produção de leite. O mesmo com relação às fêmeas destinadas ao descarte, no meu caso, como sou produtor e não selecionador, o que não serve para mim, logicamente não servirá a outro cuja atividade seja similar a minha. Outro detalhe concerne às fêmeas mestiças com grau de sangue acima dos ¾. Não sei até onde é interessante mantê-las no rebanho leiteiro, ou comercializá-las logo após a desmama. Muitos acasalam as ¾ com outra raça europeia especializada em leite, outros fazem o retro cruzamento com a raça gir. Ainda não encontrei experiência comprovada neste sentido na literatura ou na rede social. Finalmente, vejo como de suma importância as associações promotora das raças trabalharem junto as autoridades governamentais a elaboração de uma política para o setor, o mesmo também por nós que utilizamos da rede para expressar nossas opiniões. O governo tem sido complacente com a liberdade de preços estabelecida pelos laticínios através de cartelização, ou da importação de leite em pó e o uso de subprodutos do leite na produção de produtos lácteos. Uma caminhada começa pelo primeiro passo, e este precisa ser dado com uma certa urgência. A força da internet atualmente é algo fundamental e ser utilizada em função do alcance que possui. Não adianta avançarmos na produção e sermos sacrificados pelo mercado.

Luiz Humberto Carrião